Fevereiro 2009
Quando se vê, não tem mais tempo
Quando estive em Ubajara no começo deste século, com o Rubens Soares,o Cunha Jr e a Maria de Lourdes Alcântara, fomos convidados para uma festa no Ubajara Clube. Foi uma volta ao passado. A presidente do clube, Marlene Pereira, havia dito que era em homenagem ao pessoal da “melhor idade”, eufemismo para identificar os que já passaram dos 60.
E eu achando que a festa era para uma geração que dominava a cidade quando ainda eramos menino virando homem. A ausência de mais de 40 anos só me faz lembrar de Ubajara dos anos 60.
Durval Ferreira, Modesto Melo, Raimundinho do sr. José Ferreira, Antônio Miranda, Edmundo Macedo, Nabuco, Euripedes, Zé Milton lá se vão os integrantes de uma geração que marcou a fase mais progressista e alegre da sociedade ubajarense nos últimos cem anos. Rapazes, como eles, Zequinha e Quincas do seu Anjo, Domicio, Silvério, Adauto, Joaozinho do seu Flávio e muitos outros da mesma geração, desenvolveram o comércio, a indústria e a vida social. Fundaram o Ubajara Clube, o primeiro cinema e que eu me lembre, as primeiras serenatas. Essa geração dirigia os primeiros carros e motocicletas que circulavam pelas ruas da terra do Senhor da Canoa, substituindo as charretes como as de dona Mariinha Parente e de seu Flávio prefeito.
Davam vida à cidade Lembrei agora que muitas da minha geração já começaram a viajar, também. Versiani, Dário Macedo, Dário Cunha, José e George Vasconcelos, Gregório Aragão, Toinho e Guido Pinto, Pedro José e Pedro Francisco. Éramos todos do tempo em que o motor da Luz parava de funcionar às dez da noite e a luz elétrica era substituída nos bares e em algumas residências e por Petromax e lamparinas. Era nessa hora que o Oriente entrava em ebulição. E ficava bem pertinho da casa do meu avô.
Ubajara de moças bonitas que desfilavam na pracinha da matriz ao som das músicas que saiam dos alto-falantes do serviço de amplificadora A Voz de São José que ficavam no alto da torre da igreja. Passeavam suas belezas pelos nossos olhos, insultando nossa juventude. Todos parentes e amigos vivos e com saúde. Cidade limpa, cercada de sítios, as pessoas curtiam literatura, praticavam esportes, até o ar parecia mais fresco, sadio. Mário Quintana diria: “Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio/Seguiria em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...”
Voltando ao Ubajara Clube, tomei um susto quando me toquei que nós éramos os homenageados. Naquela noite vi alguns rapazes e moças, tão jovens como éramos quando passávamos férias na cidade nos anos 60. Ví também aqueles senhores conversando, bebendo e dançando como faziam anos atrás. E me fizeram lembrar a diferença entre velhos e idosos.
Você que é idoso nunca queira ficar velho. Idoso é o que tem muita idade. Velho é aquele que perdeu a jovialidade. Você é idoso quando sonha e velho quando apenas dorme. O idoso se moderniza, procura acompanhar os novos tempos. O idoso se renova a cada dia que começa, já o velho se acaba a cada noite que termina.
Sei que não dá para parar o relógio, recuperar a oportunidade perdida.
Vendo os amigos que partem, só nos resta seguir o conselho do velho poeta gaúcho. Mário Quintana sugere que não deixemos de fazer algo de que gostamos devido à falta de tempo. Não deixemos de ter pessoas ao nosso lado por puro medo de ser feliz. “A falta que terá – lembra ele – será desse tempo, que infelizmente, nunca mais voltará.”.
(*) Wilson Ibiapina (Ibiapina), jornalista
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