UBAJARA
Oscar Magalhães
Por ti
nasci poeta e
só por ti
será,
Ubajara, o
meu canto melhor;
Canto de
glória e canto de
esperança
Pelo que
és e pelo
que hás de
ser.
Porque
Vivo dentro
de ti, vives
dentro de mim,
Tu me
inspiras, eu canto,
e o meu
canto é um
clarim
Em que
farei vibrar, num
clangor todo novo,
A beleza da
terra, e do
céu, e do
povo.
E a
rega de suor
de meu rosto
cansado
Há de
fazer florir tua
mata e teu
prado.
Cantarei
Tuas águas,
Tuas filhas,
Teus verdes
bosques umbrosos;
O que
há de mais
puro, e mais
belo e mais
forte!
As tuas
águas são claras
Como o
zizi da cigarra...
Viajor, as
vossas mágoas
Vinde lavar
nessas águas!
Ó líquidos
cristais em que a sede
mitigo
Águas claras
e mansas,
Vós que
não conheceis a
perfídia do lago,
a malícia
do rio,
perto do
céu, longe do
mar, águas crianças,
fonte de
minha fé, causa
do meu lirismo,
vós me
falais de Deus
num doce murmúrio
de afago
e eu
vos bendigo
águas de
meu batismo.
A beleza
de tuas filhas
Semelha o vôo da
andorinha
Se não conheceis o
amor,
Vinde vê – las,
viajor!
Alvorada de
carne, eterna floração,
De amor
e de pureza,
Herdaste de
Iracema um dom
imenso;
Essa graça
morena,
Essa quase
tristeza,
Essa fascinação
Que falam
da palmeira e
da açucena
E das
manhãs radiantes de
verão...
Que para
vós o meu
verso seja incenso
E turíbulo
ardente o coração!
Galga o
azul teu grande
bosque
Na fronde
do piroá...
Nessa sombra,
ó viajor,
Adormecei vossa
dor!
Bosques de
minha terra onde
não mais estrugem
Estrupidos de luta,
alto soar de
inúbia,
Reside em
vós a força
e a paz
nesta hora dúbia!
Velhos carros
de bois, nos
desvios rechinam
Sob flores
de ipê... ao
longe turturinam
Rolas pardas,
azuis, cor de
ferrugem.
Vossa beleza
encanta e vossa força aterra!
Numa eclosão
de sons, num
tumulto de cores,
Num perfume
sutil de frutos
em sazão
Dais alimento
e sombra aos
pobres lenhadores
E abrigo
ao cafezal verde
que além se
alonga
Pejado de
rubis, loiro e
farto do orvalho,
Glorificando a
força, a harmonia,
o trabalho,
No forte
martelar da araponga.
Ó bendito sejais, bosques
de minha terra,
Vós que
me dais o céu, dando
a meditação!
Eu cantarei
assim...
E esse
canto será, na morna
paz do campo,
O farto
pão da espiga
e a luz
do pirilampo.
“Ubajara! Ubajara!
É tão grande
por ti o
meu amor
Que homem, chego
a esquecer o
meu tormento
Para cantar teus
dias de esplendor!”
Eu te
amo! Eu te
amo!
E à
força de te amar,
Vivo - serei
por ti essa
abelha doirada,
Morto –
ressurgirei numa rosa
encarnada
Para te
coroar.
Fonte: Revista
do Cinquentenário, ano
1965
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