quarta-feira, fevereiro 01, 2023

De OSCAR MAGALHÃES UBAJARA na íntegra

 

UBAJARA

                                                                                                                   Oscar  Magalhães

 

Por  ti  nasci  poeta  e    por  ti  será,

Ubajara,  o  meu  canto  melhor;

Canto  de  glória e   canto  de  esperança

Pelo  que  és  e  pelo  que  hás  de  ser.

 

Porque

Vivo  dentro  de  ti,  vives  dentro  de  mim,

Tu  me  inspiras,  eu  canto,  e  o  meu  canto  é  um  clarim

Em  que  farei  vibrar,  num  clangor  todo  novo,

A  beleza  da  terra,  e  do  céu,  e  do  povo.

 

E  a  rega  de  suor  de  meu  rosto  cansado

  de  fazer  florir  tua  mata  e  teu  prado.

 

Cantarei

Tuas  águas,

Tuas   filhas,

Teus  verdes  bosques  umbrosos;

O  que    de  mais  puro,  e  mais  belo  e  mais  forte!

 

As  tuas  águas  são  claras

Como  o  zizi  da  cigarra...

 

Viajor,  as  vossas  mágoas

Vinde  lavar  nessas  águas!

Ó  líquidos  cristais  em  que  a  sede  mitigo

Águas  claras  e  mansas,

Vós  que  não  conheceis  a  perfídia  do  lago,

a  malícia  do  rio,

perto  do  céu,  longe  do  mar,  águas  crianças,

fonte  de  minha  fé,  causa  do  meu  lirismo,

vós  me  falais  de  Deus  num  doce  murmúrio

de  afago

e  eu  vos  bendigo

águas  de  meu  batismo.

 

A  beleza  de  tuas  filhas

Semelha  o  vôo  da  andorinha

 

Se  não  conheceis  o  amor,

Vinde  vê – las,  viajor!

 

Alvorada  de  carne,  eterna  floração,

De  amor  e  de  pureza,

Herdaste  de  Iracema  um  dom  imenso;

Essa  graça  morena,

Essa  quase  tristeza,

Essa  fascinação

Que  falam  da  palmeira  e  da  açucena

E  das  manhãs  radiantes  de  verão...

Que  para  vós  o  meu  verso  seja  incenso

E  turíbulo  ardente  o  coração!

 

Galga  o  azul  teu  grande  bosque

Na  fronde  do  piroá...

 

Nessa  sombra,  ó  viajor,

Adormecei  vossa  dor!

 

Bosques  de  minha  terra  onde  não  mais  estrugem

Estrupidos de  luta,  alto  soar  de  inúbia,

Reside  em  vós  a  força  e  a  paz  nesta  hora  dúbia!

 

Velhos  carros  de  bois,  nos  desvios  rechinam

Sob  flores  de  ipê...  ao  longe  turturinam

Rolas  pardas,  azuis,  cor  de  ferrugem.

 

Vossa  beleza  encanta  e  vossa  força  aterra!

 

Numa  eclosão  de  sons,  num  tumulto  de  cores,

Num  perfume  sutil  de  frutos  em  sazão

Dais  alimento  e  sombra  aos  pobres  lenhadores

E  abrigo  ao  cafezal  verde  que  além  se  alonga

Pejado  de  rubis,  loiro  e  farto  do  orvalho,

Glorificando  a  força,  a  harmonia,  o  trabalho,

No  forte  martelar  da  araponga.

 

Ó  bendito sejais,  bosques  de  minha  terra,

Vós  que  me  dais  o  céu,  dando  a  meditação!

Eu  cantarei  assim...

 

E  esse  canto será,  na  morna  paz  do  campo,

O  farto  pão  da  espiga  e  a  luz  do  pirilampo.

 

“Ubajara!  Ubajara!

É  tão  grande  por  ti  o  meu  amor

Que  homem,  chego  a  esquecer  o  meu  tormento

Para  cantar  teus  dias  de  esplendor!”

 

Eu  te  amo!  Eu  te  amo!

E  à  força  de te  amar,

Vivo -  serei  por  ti  essa  abelha  doirada,

Morto – ressurgirei  numa  rosa   encarnada

Para  te  coroar.

 

Fonte:  Revista  do  Cinquentenário,  ano  1965


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