quinta-feira, novembro 16, 2017

SOBRE O JACARÉ por Clara Lêda.

Sobre  o  JACARÉ QUEIMADO,  por  Clara  Lêda.



 Diz  Clara  Leda,  no seu  A  CORRENTE  E  O  PINGENTE,  à  página  21:  “Apenas  o  nome  do  povoado, JACARÉ  QUEIMADO,  soava – lhe  com  certa  esquisitice.  Em  conversa  buscou  se inteirar  e  ficou  sabendo  que  a  freguesia  se  originou  de  descendentes  portugueses  que  moravam  em  sítios  espalhados  pela  região.  O  povoamento  foi  circunstanciado  pela  seca  de  três  anos  consecutivos  de  1877  a  1879.  Esse  fenômeno  fez  chegar,  vindo  dos  mais  diferentes  lugares  castigados  por  um  sol  escaldante,  homens,  mulheres,  crianças,  famílias  inteiras  de  retirantes  sedentos.  As  parcas  gotas  dágua  que  restavam  nas   cacimbas   dos  leitos  de  areia  dos  rios  minguados  do  sertão,  iam  sendo  tragadas  na  volúpia  de  uma  luta  sem  trégua  e  desigual  e  a  vegetação  esquelética  esturricava.  A  paisagem  era desértica,  mórbida,  com  carcaças  de  cadáveres  de  animais  espalhados  pelos  campos  estéreis. 
           A  fertilidade  das  terras  da  serra  não se deixava  abater  diante  das  intempéries  climáticas  e  a  acolhida  hospitaleira,  generosa  de  um  senhor  chamado  Manuel  propiciaram   o  assentamento  inicial  que  alicerçou  o  povoado,  à  margem  esquerda  de  um  riacho  denominado  Jacaré.
            Bem  antes  das  cabanas  cobertas  de  palha  avançarem  na  horizontal  desse  braço  de  rio,  formando  uma  longa  faixa  cinzenta,  um  jacaré  assombrou  um  pescador.  O  destino  do  animal  foi  ignorado  mas  seu  nome  ficou.  Em  1884  as  labaredas  de  um  incêndio  tragaram  o  povoado  e  quando  reerguido,  na  margem  contrária,  à  direita,  ao  nome  inicial,  Jacaré,  foi a crescido  o  adjetivo  Queimado.

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