terça-feira, março 13, 2018

ENVELHECENDO e OCASO, de Oscar Magalhães



         ENVELHECENDO
 
Ânimo, ó viajor, és moco e és forte, apanha 
o teu bordão e galga a montanha da vida! 
Eu era forte e moço e a encosta da montanha 
pus-me logo a escalar em rápida corrida.
 
Não corras tanto, assim! O sol dourado banha 
a tua estrada branca, esplêndida, florida; 
trinam aves de arminho e aquela árvore estranha 
abre-te o pára-sol da copa colorida.
 
Demora um pouco. Vê!... Mas eu não vi, corria 
na pressa de atingir o alto da serrania... 
E agora, triste e só, cansado e em desalinho,
 
descendo a oposta escarpa á luz de um sol poente 
levo, no olhar velado, a saudade pungente 
daquilo que deixei de ver no meu caminho.



OCASO
 
Hora de tédio e de meditação!
Longe agoniza o sol num poente de ouro e de aço, 
e em meu peito outro sol de luz magoada e fria, 
pinta o pálido azul com as cores da agonia.
Andam asas no espaço. 
Asas cor de carvão.
 
Na torre lanceolada de minh'alma 
há vagos sons de violino 
chorando o ritornelo gris da mágoa.
Expira a tarde, plange o sino,
é morta a luz, morta a ilusão...

do  Jornal  da  Poesia.  visita:13/03/2018 1610h

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