No livro de "Cartas": 1936- 1937. Os bilhetes da prisão.
A primeira carta escrita por Graciliano a sua mulher quando estava preso.
“27-3-1936
Heloísa: Até agora vou passando bem. Encontrei aqui excelente companheiros. Somos setenta e dois no pavilhão onde estou. Passamos o dia em liberdade. Hoje comecei a estudar russo. Já você vê que aqui temos bons professores. O Hora estuda alemão. Entre os livros existentes, encontrei um volume do Caetés, que foi lido por um bando de pessoas. Companhia ótica. Se tiver a sorte de me demorar aqui uns dois ou três meses, creio que aprenderei um pouco de russo para ler os romances de Dostoiévski. Nas horas vagas jogo xadrez ou leio a História de Portugal. Julgo que sou um dos mais ignorantes daqui. Pediram-me uma conferência sobre a literatura do nordeste, mas não tenho coragem de fazê-la. As conferências aqui são feitas de improviso, algumas admiráveis. Tudo bem. As camas têm percevejos, mas ainda não os senti. Quanto aos mais, água abundante, alimentação regular, bastante luz, bastante ar. E boas conversas, o que é o melhor. Não lhe pergunto nada, porque as suas cartas não me seriam entregues. Abraços para você e para todos. Beijos nos pequenos. Graciliano”.
[Cartas, de Graciliano Ramos. Record (1985 - pág 165)]
Ainda no livro de "Cartas". 1928. As cartas de amor trocadas com a futura mulher bem mais jovem do que ele.
Heloisa foi muito amada pelo Graciliano Ramos.
Bilhete: Quando recebi tua carta...
[...]
serás a metade de minha alma.
A metade?
Brevemente?
Não: já agora és,
não a metade, mas toda.
Dou-te a minha alma inteira,
deixe-me apenas uma pequena parte
para que eu possa existir por algum tempo
e adorar-te.
[Cartas, de Graciliano Ramos. Record (1985- pág. 101]
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