terça-feira, outubro 29, 2024

para MEMÓRIA DOS SOARES - AVENIDA WASHINGTON SOARES

 

Batista de Lima

caderno3@diariodonordeste.com.br

03:37 · 19.11.2005

Washington Soares e a Água Fria revisitada

Washington Soares é um nome que sempre nos remete a um dos pontos mais críticos do trânsito de Fortaleza. Uma avenida polemizada desde o momento da sua construção. Antes, no entanto, era uma rua tortuosa com calçamento de pedra tosca, estreita e malcuidada. Bem antes ainda era a grande fazenda do cidadão Washington Soares e Silva, que viria a dar nome a essa via principal de escoamento de trânsito da zona leste de Fortaleza em demanda de praias e cidades litorâneas.

Para os curiosos em saber o perfil dessa personalidade que deu nome à avenida, aparece agora o livro Washington Soares: fragmentos de uma vida, escrito pela sua filha, a médica Ilnah Soares. Washington Soares nasceu às 9h do dia primeiro de janeiro de 1889, em Ibiapina, cidade serrana do Planalto da Ibiapaba, filho do coronel Wenceslau Soares e Silva e Rosalina de Carvalho Soares. Panteísta, a natureza sempre lhe provocava um alumbramento. Outro fascínio que cultivava, era pela música, chegando a tocar flauta e saxofone, principalmente em festas religiosas.

Em 1910 já era estudante em Sobral onde se destacava como membro efetivo do Grêmio Lítero-Sobralense, chegando inclusive à sua presidência.
Cultivador do hábito da leitura era comum encontrar na sua estante, obras de Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Machado de Assis, Tolstoi, Émile Zola, Gustave Flaubert, Alexandre Dumas, Victor Hugo, Dostoievski e muitos outros. Foi nesse ambiente em que se respirava literatura, que Ilnah Soares e seus seis irmãos desfrutaram da convivência com o pai empreendedor. Edson, Ilnah, Maíza, Wilson, Mirtes, Wellington e Wildberger representam a herança maior que Washington Soares legou ao Ceará.(...)

 Washington Soares recebeu cento e vinte famílias de retirantes da seca de 1932 e que, acampados na sua fazenda, começaram a impulsionar o povoamento e o progresso da Água Fria.

Segundo Ilnah Soares, a fazenda Água Fria foi adquirida por seu pai em 1925, de Amâncio Filomeno Gomes, ainda com o nome de Fazenda São Paulo, por cinquenta contos de réis. De início era um latifúndio de mil hectares, correspondendo ao que hoje conhecemos como Água Fria, Lagoa Seca, Sapiranga, Precabura, Coité, parte do Cocó, Dendê, Cacheada e Lagoa do Muçu. Limitava-se pois ao norte com o rio Cocó, ao sul com o logradouro hoje chamado de Seis Bocas, a leste com o Dendê e a oeste com o Sítio Tunga.

(...)

O casarão dos Soares, construído bem antes da chegada de Washington à região, permanece de pé graças ao desvelo dos descendentes, principalmente de Wellington que fez morada ao lado e de Maíza que lá reside até hoje. Em reforma, no momento, conservando seu piso original, o madeirame antigo, as estantes de livros e a estrutura completa e original, há uma construção agora indelével, confeccionada pela filha Ilnah, que aparece na construção do seu livro.
(...)

Um dia teve Washington Soares a iniciativa de construir uma ponte tosca de madeira sobre o rio Cocó, propiciando a via de acesso Messejana-Mucuripe, hoje tão transitada em feitio moderno. Da mesma forma Ilnah constrói sua ponte, ligando o presente ao passado, através da escritura. São duas pontes feitas de materiais diferentes mas que ligam as duas margens do rio do tempo e colocam a Água Fria em definitivo no mapa da metrópole e do país do coração.

Os mil hectares da fazenda de Washington Soares fatiados ao longo desses oitenta anos pela população que acorreu à aprazível região da Água Fria recompõem-se agora graças ao tratamento cirúrgico literário da Doutora Ilnah. A epiderme desse corpo depauperado pela ação inescrupulosa do progresso acaba de ser recuperada para os pósteros pelo bisturi da reconstrução por essa artista muito mais plástica literária e poética do que clínica, retirando a Água Fria, de Washington Soares, da UTI do esquecimento e ofertando-nos rejuvenescida em bandejas páginas de ternura, lirismo e encantamento.

 

Visita: 12jul2016 13:15

 

 


Washington Soares

Washington Soares e Silva foi um grande empresário e proprietário de terras em Fortaleza. Nasceu  em Ibiapina no dia 1º de janeiro de 1889. Passou a infância em sua cidade Natal e por volta de 1910 foi para Sobral estudar. Lá, engajou-se em movimentos literários, como o Grêmio Lítero-Sobralense, pelos quais publicou alguns poemas. Contudo, em 1917 saiu de Sobral em busca de independência. Trabalhou na Firma "Boris & Frères". Passou vários anos viajando pelos estados do nordeste. Em 1927, casou-se com a paraibana Sofia de Moura Soares e veio a se estabelecer em Fortaleza. Adquiriu uma imensa propriedade então pertencente a Antônio Filomeno Gomes. O terreno, que tinha cerca de 1.000 hectares, estendia-se desde o rio Cocó até a região das "Seis Bocas", abrangendo os atuais bairros de Água Fria, Lagoa Seca, Sapiranga, Precabura, Coité, Cocó (em parte), Dendê, Cacheada e Lagoa do Muçu. Além das Salinas situadas no atual Parque do Cocó, Washington Soares tinha olarias (produção de telha/tijolo) e plantações de milho, mandioca, feijão, jerimum e batata. Segundo Soares (2005), durante a seca de 1932, recebeu em suas terras retirantes do interior, acolhendo-os como trabalhadores e moradores do sítio. Na região do Cocó, Wasington Soares construiu uma pequena escola para os filhos dos pescadores da Colônia Z-58 e uma pequena ponte para a travessia do rio (anos 40). Na política, presidiu o PSD sem nunca ter se candidatado a qualquer cargo eletivo. Faleceu na Santa Casa de Misericórdia, aos 58 anos de idade, em 24 de agosto de 1947, vítima de grave enfermidade nos rins

 

MENEZES, M. O. T. (2006) Ceará de Luz, Disponível em: http://cearadeluz.blogspot.com, Acesso em: DD/MM/AAAA


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