terça-feira, março 07, 2023

Raimundo Magalhães Júnior UMA BIOGRAFIA DO INCANSÁVEL

 


Raimundo  Magalhães  Júnior

por

Cláudio César Magalhães Martins,  da  Academia  Ipuense  de  Letras,  Ciências  e  Artes

 

Acredito que poucos saibam quem foi Raimundo Magalhães Júnior, um cearense brilhante e que nasceu em um município muito próximo à cidade de Ipu.  Explico-me: o personagem objeto deste artigo veio ao mundo na cidade de Ubajara, em 12 de fevereiro de 1907. Seu pai, o jornalista Raimundo Magalhães, foi autor do VOCABULÁRIO POPULAR, obra publicada em 1911. Aos 17 anos, transferiu-se para a cidade de Campos (RJ), onde fez os estudos de Humanidades e se iniciou no jornalismo. Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e, já no ano de 1934, lançou o seu primeiro livro de contos sob o sugestivo título “Impróprio para menores.” Espírito irrequieto, foi um dos fundadores do Diário de Notícias, secretário da revista “A Noite Ilustrada” e diretor das revistas “Carioca”, “Vamos Ler” e “Revista da Semana.”

Em 1930, como redator de “A Noite”, foi enviado ao Paraguai para cobrir a Guerra do Chaco, que aquele país travava contra a Bolívia.. Em 1933, casou-se com Lúcia Benedett i, escritora e autora

de peças para o público infantil. Em 1938, escreve a peça Mentirosa, a qual foi premiada pela Academia Brasileira de Letras. Entre 1939 e 1942, seis peças de sua autoria entram em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo. São elas: O Testa de Ferro, Carlota Joaquina, Um Judeu, a Família Lero-Lero, Casamento no Uruguai e Trio em Lá Menor.

Fugindo à perseguição política da ditadura de Getúlio Vargas, seguiu para os Estados Unidos em 1942, onde permaneceu até 1945, passando a trabalhar no escritório de Nelson Rockefeller, que, à época, era Coordenador de Assuntos Interamericanos. Neste período, foi colaborador do The New York Times, Pan-American Magazine, American Mercury e Theatre Arts. Ao retornar ao Brasil, participou da redação da revista Brazilian- American, que então era publicada em inglês no Brasil.

Como tradutor do escritor americano Tenessee Williams, verteu para o português as peças Anjo de Pedra, A Rosa Tatuada e Gato em Teto de Zinco Quente. Poliglota que era, traduziu para a nossa língua inúmeras obras teatrais do inglês, francês, italiano e espanhol, obras essas que eram representadas no Teatro Maria Della Costa e Teatro Brasileiro de Comédia. Embora suas traduções fossem elogiadas pela crítica por sua fidelidade aos textos originais, o mesmo não  ocorreu com as adaptações que realizou.

Na década de 1950, adaptou para o cinema, sob o título  João Gangorra, a peça Essa Mulher é Minha, que vinha sendo protagonizada no teatro por Procópio Ferreira. Na mesma década, escreveu O Imperador Galante, biografia  a dramática de D. Pedro I, encenada no teatro pela Companhia Dulcina-Odilon. Neste período, logrou eleger-se vereador do Distrito Federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), exercendo dois mandatos: 1951-55 e 1955-59. Em 1953, publicou a biografia de Arthur Azevedo, primeira de uma série de biografias, entre as quais se destacam Martins Pena e Sua Época e As Mil e Uma Vidas de Leopoldo Fróes. Publicou também contos, antologias poéticas, dicionários de citações, provérbios e frases feitas.

Em 9 de agosto de 1956, foi eleito para a cadeira nº 34 da Academia Brasileira de Letras, anteriormente ocupada por  João Manuel Pereira da Silva, pelo Barão do Rio Branco, pelo Gal. Lauro Müller e por D. Francisco de Aquino Correia. Foi o 5º cearense a chegar à Academia. Antes dele, lá estiveram Araripe Júnior, Clóvis Bevilácqua, Heráclito Graça e Gustavo Barroso. Como acadêmico, exerceu por muitos anos a função  de redator-chefe da revista Manchete. Teve atuação destacada como autor de radionovelas, que eram apresentadas na Rádio Nacional. Criou o  programa Acredite se Quiser, o qual apresentava, entre outras histórias, casos de aparições de fantasmas. Participou, nos anos 50, do processo de implantação da televisão no Brasil, sendo um dos diretores da TV Tupi. Indagado sobre como arranjava tempo para suas múltiplas atividades, respondeu: “O dia dura 36 horas, quando sabemos esticá-lo por ambas as extremidades. Uma  consiste em dormir tarde. Outra consiste em acordar cedo.” No ano de 1964, lançou sua obra mais polêmica: Rui: o Homem e o Mito, onde procura desconstruir o mito criado em torno de Rui Barbosa, apontando contradições e impropriedades em suas ações políticas e em suas obras. O livro provocou a ira dos admiradores de Rui, como se vê no texto abaixo, de Américo Jacobina Lacombe, então diretor da Casa de Rui Barbosa:  “Das páginas daquele cartapácio, quem sai realmente arrasado não é Rui Barbosa; é o título de biógrafo pretendido pelo organizador. Se ele tivesse ao menos realizado uma compilação de velhos inimigos de Rui Barbosa: Laet, Moniz Sodré, Barcelos, Seabra, Bagdócimo, fazendo uma antologia contra o biografado, teria reeditado muita calúnia destruída, mas teria fornecido ao público algumas páginas de boa literatura.

Querendo dizer coisa nova, não conseguiu ultrapassar o mau panfleto. Do ponto em que colocou o estudo não é possível partir para fazer a revisão de qualquer figura histórica a que fazem referência os noticiaristas apressados”. Sobre a personalidade de Raimundo Magalhães Jr., assim se expressou Murillo Melo Filho, seu colega na ABL e na revista Manchete: “Tinha um apetite de escritor e pesquisador, simplesmente  insaciável, que não conhecia limites. Aí também pudemos admirá-lo como um brasileiro honesto e honrado em  suas posições políticas e convicções ideológicas, um fanático na disciplina e na pontualidade de entregar, nos prazos certos,

os seus projetos literários, de livros, peças teatrais e traduções, um exemplo de correção e de lisura em suas atitudes de intelectual  digno e capaz, um companheiro leal e correto, generoso e  atencioso, e que por algum tempo esteve entre aqueles  poucos boêmios com os quais qualquer colega gostaria de fazer uma grande farra” .

O mesmo colega o descreve, sob o ponto de vista físico, como sendo baixo e atarracado, com apenas 1,60 m de estatura,  “algo vesgo e estrábico, características que não o aproximavam

muito de um elegante Apolo. Mas era, ao mesmo tempo, um homem encantador, de prosa culta e erudita, ajudado por uma memória prodigiosa.” Em certa ocasião, Adolpho Bloch, proprietário da Manchete, mandou desligar a refrigeração do seu ambiente de trabalho. Em sinal de protesto, Magalhães tirou a camisa, revelando o seu busto assaz feio e ameaçando tirar o resto da roupa, o que fez Adolpho Bloch retroagir de sua determinação. Sua morte foi trágica e inesperada. Em 12 de dezembro de 1981, ao descer de um ônibus no sinal da Rua Silveira Martins com a Praia do Flamengo, no Rio, e tentar cruzar o asfalto para chegar ao seu local de trabalho, na redação da Manchete, foi atropelado por um carro em alta velocidade, vindo a falecer. Tinha, então, 74 anos de idade. Eis um breve perfil do ubajarense Raimundo Magalhães Júnior, personagem que honrou a cidade onde nasceu e o próprio Estado do Ceará. Ubajara prestou-lhe justa homenagem,

ao inaugurar, em 23 de dezembro de 2008, uma Casa de Cultura que leva o seu nome, a qual abrigará o Memorial de seu filho ilustre.   Por sua inteligência, produtividade e amor ao trabalho,

Murillo Melo Filho o cognominou de “um operário da inteligência”, título que dá nome ao presente artigo.

Nota do autor:

As informações contidas neste trabalho foram obtidas

através do GOOGLE, mediante consulta aos títulos “RAIMUNDO

MAGALHÃES JR” e “RUI, O HOMEM E O MITO.


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RAIMUNDO MAGALHÃES JÚNIOR UMA ANOTAÇÃO DE PRÓPRIO PUNHO

  No  acervo  da  Câmara  MUnicpal  de  Ubajara,  por  Mecostarte