O EMBATE DOS ESCORPIÕES
CÂMARA CASCUDO
foi espetacular no
seu “ Canto de
Muro”, romance de costumes. Wilson
Martins prefaciando a
obra, diz: “ Será um
daqueles livros que “ficam”, um
daqueles “clássicos de segunda
fileira”, que fazem
as delícias dos
amadores sutis e
exigentes.
Quando nos
deparamos com a
narração do embate
entre dois escorpiões,
chega – se a noção
da espetacularidade de
Cascudo. Aí vai
um extrato para
se sentir o “clima”:
Página 73: “ O
lacrau desafiante abandonou
a disposição frontal
e vai devagar
apoiando – se à saliência,
ficando de lado
e obrigando Titius
a segui – lo na
posição. Agora voltaram
ao frente - à -
frente ao longo
da elevação protetora,
Quase ao final
da tomada de
postura a tenaz
do inimigo se
liberta numa fração
de segundo e
desce, fulminante, sobre
a primeira pata
dianteira de Titius
enquanto a outra
garra sustentava o
mortificante amplexo. Há
apenas um perceptível
estalido que Fu, o sapo
do tanque, ouvindo,
compreendeu e fugiu,
A pata de
Titius caiu no
cimento como um
pedaço de palito
quebrado.
Mas
para este golpe
não era possível
manter imóveis as
duas pinças de
Titius com uma
só tesoura. Antes
que o adversário
se recompusesse o
lacrau arrebatou suas
quelíceras da pressão
diminuta e ´prendeu – as
ao primeiro casal
dianteiro do duelista.
Apertou desesperadamente e
partiu – o rente ao terço, como
numa foiçada de
cegador.”
Câmara Cascudo
é soberbo nas suas pesquisas
que embasam os
personagens que descreve.
E descreve muito
bem o gabiru,
o bacurau, o canário da
terra, o próprio
escorpião, apresentando a
historicidade de cada
vida narrada. Muito
interessante a informação
do autor sobre
as origens do
canário, de onde
veio, por onde
passou até chegar
ao Brasil, trazendo
também datas alusivas.
Recomendo a
leitura do CANTO
DE MURO, de
Câmara Cascudo.
MeCosta
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