quinta-feira, junho 30, 2016

AS LEMBRANÇAS DE FOGUEIRA E OUTRAS



FALANDO  DE  FOGUEIRA...

             No  Nordeste  brasileiro    não  é  mais  muito  assim.  Mas,  vez  ou  outra,  ainda  acontece.  Na  zona  rural  ainda  temos  fogueiras  com  milho  verde  e batata, cozida  e  assada,  sardinha  salgada  e  até  mungunzá.
            É  da  minha  infância  comer  batata  doce  assada  na  cinza  quente  da  fogueira.  As  fotos  são  atuais.   Veja – as  e  se  lembre  do  tempo  em  que  se  comia  a  batata  doce  ainda  quente  “pegando fogo”  ao  lado  da  fogueira  crepitante. 
 

 

O  QUE  VALE  É  A  INTENÇÃO...

 São  João  disse,  São  Pedro  Confirmou  que  eu  serei  sua  afilhada  que  Jesus  Cristo mandou.

Outra  lembrança  fantástica.  Pela  manhã  do  dia  seguinte  ao  dia  29,  hoje,  no  caso,  fui  ao  sítio  Moitinga,  em  Ubajara,  visitar  um  casal  amigo.  O  senhor  Manoel  Lira  completou  recentemente  90  anos;  sua  senhora,  dona  Luzia,   completou  83.  No  momento  em que lá chequei,  fui  chamado  para  a  cozinha pequena  da  casa. Havia  mais  uma  senhora  lá,  além  da  dona  da  casa.  Pusemo – nos  a  conversar.    pelas  tantas,  me   foi  perguntado  se  eu  queria  um  pouco  de  massa  de  milho  novo  para  fazer  o  cuscuz.  Em  outros  tempos  sempre  ouvi  alguém  chamar  o  cuscuz  de “pão  de  milho”.  Afirmei  que  queria.  Fomos  então  debulhar  o  milho    quase  seco.  Seu  Manoel  Lira,  com  um  facão,  cortava  o  milho  do  sabugo.  Eu  ia  debulhando  outras  espigas.  Ao  terminarmos,  levamos  o  milho  ao  moinho  de  madeira,  uma  maravilha,  instalado  ao  lado  da  casa  de  um  parente  seu  ali  perto.  Enquanto  moíamos  o  milho,  a  ajudante  de  dona  Luzia,  veio  até  nós  para  perguntar  se  o  seu  Manoel  Lira  lembrava dos  dizeres  para  celebrar  o  laço  de  amizade  de  madrinha  e  afilhada,  neste  caso.  Ele  ficou  calado  por  alguns  instantes.  Após  isso,  começamos  a  lembrar  das  palavras,  as  quais  envolvem  os  santos  Antonio,  João  e  Pedro,  que  são  festejados  por  todo  o  mês  de  junho,  quando,  no  Nordeste,  fazemos  as  tradicionais fogueiras ( que    quase  desaparecem ).  A  princípio  eu  achava  que  o  ato  se  consumaria  à  noite,  em  volta  da  fogueira.  Enganei – me.  Ao  retornarmos  para  a  casa  de  seu  Manoel  com  o  milho  pronto  para  ser  peneirado,  encontramos  as  duas  mulheres,  uma  com  a  mão  na  da  outra,  “rezando”  as  palavras  São  João  disse,  São  Pedro  confirmou...”.  Interessante  que  não  havia  a  fogueira  entre  as  duas.  No  lugar  da  mesma,  foi  posta  uma  telha,  com  alguns  pedaços  de  carvão  e  cinza,  a  simbolizar  o  fogo  da  fogueira.  Estava  firmado:  nascia  ali  uma  afilhada  da  madrinha.  Pena  não  ter  feito  algumas  fotos.     

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