SEM TEMPO A PERDER...
DADOS BIOGRÁFICOS DE RAIMUNDO MAGALHÃES JUNIOR
Raimundo Magalhães
Júnior
por
Cláudio César
Magalhães Martins, da Academia
Ipuense de Letras,
Ciências e Artes
Acredito que poucos saibam quem foi Raimundo Magalhães
Júnior, um cearense brilhante e que nasceu em um município muito próximo à
cidade de Ipu. Explico-me: o personagem
objeto deste artigo veio ao mundo na cidade de Ubajara, em 12 de fevereiro de
1907. Seu pai, o jornalista Raimundo Magalhães, foi autor do VOCABULÁRIO
POPULAR, obra publicada em 1911. Aos 17 anos, transferiu-se para a cidade de
Campos (RJ), onde fez os estudos de Humanidades e se iniciou no jornalismo. Em
1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e, já no ano de
1934, lançou o seu primeiro livro de contos sob o sugestivo título “Impróprio
para menores.” Espírito irrequieto, foi um dos fundadores do Diário de
Notícias, secretário da revista “A Noite Ilustrada” e diretor das revistas
“Carioca”, “Vamos Ler” e “Revista da Semana.”
Em 1930, como redator de “A Noite”, foi enviado ao Paraguai
para cobrir a Guerra do Chaco, que aquele país travava contra a Bolívia.. Em
1933, casou-se com Lúcia Benedett i, escritora e autora
de peças para o público infantil. Em 1938, escreve a peça Mentirosa,
a qual foi premiada pela Academia Brasileira de Letras. Entre 1939 e 1942, seis
peças de sua autoria entram em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo. São
elas: O Testa de Ferro, Carlota Joaquina, Um Judeu, a Família Lero-Lero,
Casamento no Uruguai e Trio em Lá Menor.
Fugindo à perseguição política da ditadura de Getúlio Vargas,
seguiu para os Estados Unidos em 1942, onde permaneceu até 1945, passando a
trabalhar no escritório de Nelson Rockefeller, que, à época, era Coordenador de
Assuntos Interamericanos. Neste período, foi colaborador do The New York Times,
Pan-American Magazine, American Mercury e Theatre Arts. Ao retornar ao Brasil,
participou da redação da revista Brazilian- American, que então era publicada
em inglês no Brasil.
Como tradutor do escritor americano Tenessee Williams, verteu
para o português as peças Anjo de Pedra, A Rosa Tatuada e Gato em Teto de Zinco
Quente. Poliglota que era, traduziu para a nossa língua inúmeras obras teatrais
do inglês, francês, italiano e espanhol, obras essas que eram representadas no
Teatro Maria Della Costa e Teatro Brasileiro de Comédia. Embora suas traduções
fossem elogiadas pela crítica por sua fidelidade aos textos originais, o mesmo
não ocorreu com as adaptações que
realizou.
Na década de 1950, adaptou para o cinema, sob o título João Gangorra, a peça Essa Mulher é Minha,
que vinha sendo protagonizada no teatro por Procópio Ferreira. Na mesma década,
escreveu O Imperador Galante, biografia a
dramática de D. Pedro I, encenada no teatro pela Companhia Dulcina-Odilon. Neste
período, logrou eleger-se vereador do Distrito Federal pelo Partido Socialista
Brasileiro (PSB), exercendo dois mandatos: 1951-55 e 1955-59. Em 1953, publicou
a biografia de Arthur Azevedo, primeira de uma série de biografias, entre as
quais se destacam Martins Pena e Sua Época e As Mil e Uma Vidas de Leopoldo
Fróes. Publicou também contos, antologias poéticas, dicionários de citações,
provérbios e frases feitas.
Em 9 de agosto de 1956, foi eleito para a cadeira nº 34 da
Academia Brasileira de Letras, anteriormente ocupada por João Manuel Pereira da Silva, pelo Barão do
Rio Branco, pelo Gal. Lauro Müller e por D. Francisco de Aquino Correia. Foi o
5º cearense a chegar à Academia. Antes dele, lá estiveram Araripe Júnior,
Clóvis Bevilácqua, Heráclito Graça e Gustavo Barroso. Como acadêmico, exerceu
por muitos anos a função de
redator-chefe da revista Manchete. Teve atuação destacada como autor de
radionovelas, que eram apresentadas na Rádio Nacional. Criou o programa Acredite se Quiser, o qual
apresentava, entre outras histórias, casos de aparições de fantasmas. Participou,
nos anos 50, do processo de implantação da televisão no Brasil, sendo um dos
diretores da TV Tupi. Indagado sobre como arranjava tempo para suas múltiplas
atividades, respondeu: “O dia dura 36 horas, quando sabemos esticá-lo por ambas
as extremidades. Uma consiste em dormir
tarde. Outra consiste em acordar cedo.” No ano de 1964, lançou sua obra mais
polêmica: Rui: o Homem e o Mito, onde procura desconstruir o mito criado em
torno de Rui Barbosa, apontando contradições e impropriedades em suas ações
políticas e em suas obras. O livro provocou a ira dos admiradores de Rui, como
se vê no texto abaixo, de Américo Jacobina Lacombe, então diretor da Casa de
Rui Barbosa: “Das páginas daquele cartapácio, quem sai realmente arrasado
não é Rui Barbosa; é o título de biógrafo pretendido pelo organizador. Se ele
tivesse ao menos realizado uma compilação de velhos inimigos de Rui Barbosa:
Laet, Moniz Sodré, Barcelos, Seabra, Bagdócimo, fazendo uma antologia contra o biografado,
teria reeditado muita calúnia destruída, mas teria fornecido ao público algumas
páginas de boa literatura.
Querendo dizer coisa nova, não conseguiu ultrapassar o mau panfleto.
Do ponto em que colocou o estudo não é possível partir para fazer a revisão de
qualquer figura histórica a que fazem referência os noticiaristas apressados”. Sobre
a personalidade de Raimundo Magalhães Jr., assim se expressou Murillo Melo
Filho, seu colega na ABL e na revista Manchete: “Tinha um apetite de escritor e
pesquisador, simplesmente insaciável,
que não conhecia limites. Aí também pudemos admirá-lo como um brasileiro
honesto e honrado em suas posições
políticas e convicções ideológicas, um fanático na disciplina e na pontualidade
de entregar, nos prazos certos,
os seus projetos literários, de livros, peças teatrais e
traduções, um exemplo de correção e de lisura em suas atitudes de intelectual digno e capaz, um companheiro leal e correto,
generoso e atencioso, e que por algum
tempo esteve entre aqueles poucos
boêmios com os quais qualquer colega gostaria de fazer uma grande farra” .
O mesmo colega o descreve, sob o ponto de vista físico, como
sendo baixo e atarracado, com apenas 1,60 m de estatura, “algo vesgo e
estrábico, características que não o aproximavam
muito de um elegante Apolo. Mas era, ao mesmo tempo, um homem encantador, de prosa culta e erudita, ajudado por uma memória prodigiosa.” Em certa ocasião, Adolpho Bloch, proprietário da Manchete, mandou desligar a refrigeração do seu ambiente de trabalho. Em sinal de protesto, Magalhães tirou a camisa, revelando o seu busto assaz feio e ameaçando tirar o resto da roupa, o que fez Adolpho Bloch retroagir de sua determinação. Sua morte foi trágica e inesperada. Em 12 de dezembro de 1981, ao descer de um ônibus no sinal da Rua Silveira Martins com a Praia do Flamengo, no Rio, e tentar cruzar o asfalto para chegar ao seu local de trabalho, na redação da Manchete, foi atropelado por um carro em alta velocidade, vindo a falecer. Tinha, então, 74 anos de idade. Eis um breve perfil do ubajarense Raimundo Magalhães Júnior, personagem que honrou a cidade onde nasceu e o próprio Estado do Ceará. Ubajara prestou-lhe justa homenagem, ao inaugurar, em 23 de dezembro de 2008, uma Casa de Cultura que leva o seu nome, a qual abrigará o Memorial de seu filho ilustre. Por sua inteligência, produtividade e amor ao trabalho,
Murillo Melo Filho o cognominou de “um operário da
inteligência”, título que dá nome ao presente artigo.
Nota do autor:
As informações contidas neste trabalho foram obtidas
através do GOOGLE, mediante consulta aos títulos “RAIMUNDO
MAGALHÃES JR” e “RUI, O HOMEM E O MITO.
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