segunda-feira, julho 22, 2024

da minha rua ABDELKADER MAGALHÃES

 

ABDELKADER  MAGALHÃES,  ADVOGADO

( Raimundo  Magalhães  Júnior )

pernas, somente até os tornozelos, sapatos de bicos agressivamente finos, não raros de duas cores, chamados de "camouflage": pretos e brancos, marrons e brancos, ou apenas brancos. 0 chapéu tipo "palhinha" completava a indumentária, em um e outro caso complementado com uma bengala. Os cabelos, penteados para trás, fixados à força de "brilhantinas". Falava-se muito em "bolina", forma de toque de sentido sexual primário na es curidão dos cinemas ou nos raros namoros de portão. Os "filmes" foram divididos em partes e um leve toque de campainha "notificava" que as luzes estavam acesas. Era a hora de retirar ansiosamente o que se chamaria depois de "mão-boba" que, aproveitando o escuro, estava acariciando um seio ou pousada "acidentalmente" na coxa da namorada. Não era incomum o namoro de sobrado, o "almofadinha" lá em baixo, na rua, e a "melindrosa" na sacada, repetindo, séculos depois, a cena do balcão de "Ro meu e Julieta". Se era rua por onde trafegava os bondes, o fim de conversa era marcado pelo movimento do namorado pegar o bonde andando: era prova de masculinidade pegar os bondes em movimento. Não havia bailes de clubes, a não ser raríssimos promovidos pelo "Casino" (como sim mesmo com um "esse" só) ou pelo Clube Macarroni. Os bailes eram realizados em casas de família e certas "almofadinhas" tinham faro apuradíssimo para descobri-los. Os boêmios eram Gastão Machado, Lobinho, Luiz Florenzano Balbi, Plinio Machado, Raimundo Magalhães Júnior (futuro membro da Academia Brasileira de Letras, escritor famoso, à época redator de " brasileiro ao Sul-Americano de 1923, em Montevidéu, recebeu o convite para participar das Olimpíadas de Paris. Amáro Silveira foi escolhido pelos jornalistas que cobriam o Sul Americano como a ponta esquerda da seleção do certo, apelidado de "el chico de oro", pela imprensa uru guaia. E em "A Notícia" de 20 de março de 1924 está registrado o convite dirigido 214

Duas figuras Em julho de 1924 chegava a Campos uma figura que marcaria de modo indelével a sua presença extraordinária pela obra sócio-cristã aqui durante cerca de 40 anos. Era o apostolar Monsenhor José Severino, imagem de santo-profeta com suas longas barbas brancas e seus olhos muito azuis. Missionário na África por quase 20 anos, ele conheceu o ilustre historiador campista Alberto Lamego, em Londres, no final da Grande Guerra de 1914. Lamego logo o convidava, desde lá de Londres, para vir morar em Campos e aqui continuar o seu trabalho apostólico . Não era o "padre Severino" português como muitos supunham por conta de seu sotaque de quem vivera longos anos na África portuguesa. Nascera no Rio de Janeiro, em 1867, e cursara o Colégio Pedro II. Depois o Seminário Patriarcal e em seguida fora professor no Colégio Santa Maria, tendo como um dos seus alunos o campista Obertal Chaves, que viria a ser Promotor em Campos. Em 1896, ele seguiu para a África, percorrendo o Congo e Angola, onde viveu como missionário durante 17 anos. A convite do Governador de Angola realizou excursão pelo rio Cunene, tomando posse para Portugal das regiões de Donguena e Hinza. Em 1913 rumou para Cabo Verde, São Tomé, Príncipe, Ilha da Madeira, Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda e Inglaterra. Esteve com o Papa e depois veio para o Brasil. Mas não veio direto para Campos. Antes fundou e dirigiu a Escola para Menores Abandonados, o Orfanato São Bento e Asilo São Luiz, este em São Cristóvão, todos no Rio de Janeiro. Chegando a Campos em julho de 1924, logo fundava o Orfanato São José, a Caixa Escolar e o Abrigo dos Pobres, que tem o seu nome. O Orfanato acolheu logo 250 meninos abandonados, que passaram a ter educação, ensino, alimentação, ginástica e educação musical. Exímio músico, monsenhor Severino criou a bandinha do Orfanato que se tornaria uma das instituições mais populares e queridas dos campistas. Exibia-se em toda parte e abrilhantava os jogos de futebol. Entrava em ação a cada gol marcado mas o povo dizia que com maior animação quando o gol era do Goytacaz... O Orfa nato formou para a vida útil muitos campistas. Tinha oficina mecânica, tipográfica, sapataria, etc. O Orfanato São José foi a maior obra social que teve atuação em Campos. O "padre Severino" deixou livros sobre viagens e falou vários idiomas e dialetos africanos. Deixou mesmo uma gramática do idioma Olumyka. Era sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, do Atheneu da cidade do Porto, Portugal; e do Instituto Histórico de São Paulo. Faleceu em Campos, em 8 de dezembro de 1943. Seus funerais foram imponen tes. O povo levou o caixão do hospital da Beneficência à Matriz de São Salvador, onde o corpo foi encomendado pelo Bispo D. Otaviano. No Cemitério do Caju dis cursaram Alberto Lamego e vários outros oradores. Terminado o Censo de 1920, por aqui ficou um funcionário do mesmo, que, desempregado, pegou o posto de revisor da "Folha do Comércio". A tônica do jornalismo do tempo era o "artigo de fundo", de acentos fundamentalmente políticos, 219 O povo levou o caixão do hospital da Beneficência à Matriz de São Salvador, onde o corpo foi encomendado pelo Bispo D. Otaviano. No Cemitério do Caju discursaram Alberto Lamego e vários outros oradores. Terminado o Censo de 1920, por aqui ficou um funcionário do mesmo, que, desempregado, pegou o posto de revisor da "Folha do Comércio". A tônica do jornalismo do tempo era o "artigo de fundo", de acentos fundamentalmente políticos, 219 O povo levou o caixão do hospital da Beneficência à Matriz de São Salvador, onde o corpo foi encomendado pelo Bispo D. Otaviano. No Cemitério do Caju discursaram Alberto Lamego e vários outros oradores. Terminado o Censo de 1920, por aqui ficou um funcionário do mesmo, que, desempregado, pegou o posto de revisor da "Folha do Comércio". A tônica do jornalismo do tempo era o "artigo de fundo", de acentos fundamentalmente políticos, 219

Biblioteca de ESTUDOS FLUMINENSES


não raro vazado em linguagem veemente e até desabrida. Quem o redigia no mencionado jornal era Thiers Cardoso, o musicista da "Marcha Brasil" e que seria de pois deputado federal. Thiers adoeceu ou manteve-se inesperadamente e José Carlos Pereira Pinto, presidente da Associação Comercial e automaticamente diretor de "Folha do Comércio", pôs as mãos na cabeça; quem iria redigir o "artigo de fundo"? Foi quando o revisor anônimo se ofereceu para a tarefa. Zé Carlos mirou-o, descrente. Mas o cidadão insistiu: era quem revisava os artigos, conhecia a linha política do jornal, deixasse que ele tentasse. Escreveu. Uma beleza. Melhor do que os artigos do Thiers Cardoso. Então o Zé Carlos apertou o homem, que se identificou:
era cearense, advogado e escondera esta condição envergonhada por ter que apelar para o emprego eventual de funcionário do Recenseamento.  Era Abdelkader Magalhães, cujo talento brilharia em Campos.  Mandou ele, então, buscar dois sobrinhos no Ceará. Um era o Raimundo Magalhães Junior que se tornaria figura de destaque nos meios literários nacionais, membro da Academia Brasileira de Letras. Estudou no Liceu e começou a carreira jornalística na "Folha do Comércio". Abdelkader Magalhães brilharia no Foro de Campos como advogado e seria eleito deputado esta dupla. Era um homem de grande talento. Em 1930 a tragédia se fez presente em sua vida: matou ele um pacato alemão, mecânico da Fábrica de Tecidos, crime cometido sob uma ação de excessos etílicos. Desapareceu o dr. Abdelkader, vivendo sob nome suposto no interior de Goiás, só revelando sua verdadeira identidade na hora da morte. O triste episódio aconteceu em 1930 e Raimundo Magalhães se mudou para o Rio, onde começaria no vespertino "A Noite" sua vitoriosa carreira de jornalista e escritor. Infelizmente — e o fato não tem explicação — como que riscou Campos de sua biografia, guardando mágoa da cidade que o acolheu, coisa que não fez nunca nenhum sentido.


Biblioteca de ESTUDOS FLUMINENSES,  a  fonte


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