Tomo a iniciativa de trazer para cá esta biografia de Raimundo Magalhães Júnior pelo simples fato de, sendo este importante para pesquisadores, mencionar PORMENORES da vida do autor, bem como relacionar toda a sua obra que, por sinal, é bastante extensa. Mais interessante seria se pudesse também relacionar os nomes dos irmãos.
RAIMUNDO MAGALHÃES JÚNIOR
Raimundo Magalhães
Júnior nasceu
em Ubajara (CE), em 12 de fevereiro de 1907.
Faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 12 de
dezembro de 1981.
Filho do jornalista
Raimundo de Oliveira Magalhães e Dona JOVINA DE PAULA CAVALCANTI.
Magalhães Júnior foi o filho
mais velho do casal.
Aos 2 anos, escapou
milagrosamente da morte; seriam seis e pouco da tarde, quando a babá, que o
levava escanchado ao colo, foi acender o lampião (era ao tempo dos lampiões de
pavio e manga de vidro). Mas o querosene entornou-se e, quando a mocinha riscou
o fósforo, aconteceu o desastre: o fogo propagou-se pelas suas roupas e
ela, no desespero, correu para a rua arremessando longe o garoto, para rolar
adiante, envolvida pelas chamas. Morreu três dias depois. Quanto a Magalhães,
não teve uma só queimadura; mas recordava-se, nitidamente, do pavor
experimentado no momento.
Em Fortaleza, o menino foi
matriculado na escola pública. Pouco tempo depois, morre-lhe a mãe, de asma,
aos 28 anos. Nunca pôde o escritor esquecer o desenlace, tendo em vista,
sobretudo, o caráter trágico de que se revestiu: passou o corpo trinta e seis
horas em câmara ardente, sem que os médicos consentissem no enterro: tido como
morta, Dona Jovina conservava, entretanto, sinais de vida.
Depois da morte da mãe,
voltou o menino para o interior. Mas o pai permaneceu na capital, onde seria
vítima de um atentado político, e deixado como morto numa sarjeta, com vários
tiros, até que o recolheram à Santa Casa. Apesar de não ter morrido, sua vida
não se equilibrou mais.
Em 1914, volta a Ubajara;
por essa época, tem o menino um período de despreocupação.
À altura de 1916, apareceu
no lugar um caixeiro-viajante da Editora Jackson, levando exemplares da
famosa Biblioteca Internacional de Obras Célebres. Como o preço da
coleção era muito alto para as posses dos habitantes locais, quatro deles
resolveram cotizar-se e adquiri-la. Por essa época, embora muito jovem, já tinha
o futuro jornalista hábito de leitura. Aproximou-se então dos rapazes, e
devorou-lhes a coleção. Através dela, tomou contato com diversos autores, entre
outros Washigton Irving, cujas narrativas sobre a ocupação mourisca na Espanha
o impressionaram fundamente. O mesmo aconteceu em relação a reproduções de
obras de arte, e o escritor recorda-se do deslumbramento sentido diante da foto
da estátua de Cellini Perseu com a cabeça da Medusa, e cujo original,
quarenta anos mais tarde, teria oportunidade de ver em Florença,
emocionadíssimo.
Sua grande preocupação,
naquela época, eram as pessoas que tinham livro. Infelizmente, o número delas
em Ubajara era bem reduzido. Quem poderia ir em sua ajuda era o juiz, que vinha
de longe em longe de São Benedito, cabeça de comarca, para visitar o cartório.
Assim, fez amizade com o juiz, homem de letras e que possuía todo o Eça.
Devorou esse e outros autores e, de sua parte, emprestou ao juiz os livros que
o pai lhe remetia do Rio. Foi também nesse período que, através da leitura de Várias
Histórias, conheceu Machado de Assis - de quem seria mais tarde grande
estudioso.
Pouco tempo depois, Ubajara
tornou-se município, e o primeiro juiz para lá nomeado, beletrista, fundou um
colégio de que Magalhães foi aluno. Por influência desse juiz, jacksoniano,
tomou contato com a obra de Jackson, tendo lido Pascal e a Inquietação
Moderna de que, na realidade, entendeu muito pouco. Mas, de qualquer modo,
ia fazendo o seu aprendizado.
Aos 16 anos, veio Magalhães
Júnior para o Sul, onde já se encontravam o pai e um tio; tentou o jornalismo
inutilmente no Rio, mudou-se então para Campos e, com o auxílio do tio, foi
trabalhar na Folha do Comércio. Não abandonou os estudos: tomava aulas
particulares e fazia exames parcelados no Liceu.
Dedicou-se ao jornal de tal
maneira que, em pouco tempo, chegou a ser seu redator-chefe. Começou também a
fazer teatro.
Desde 1927,
escrevia
peças
de
teatro e contos, a sua primeira peça foi uma comédia com duas personagens Espírito
Encrencado. Ainda nesses tempos remotos de estudante em Campos, através de
uma página de Vieira Fazenda, nascer-lhe-ia a idéia de uma de suas peças mais
famosas: Carlota Joaquina, escrita em 1938.
Em 1930, mudou-se o escritor
para o Rio, indo trabalhar como arquivista em O Malho.
Em 1934, lança Magalhães
Júnior seu primeiro volume de contos Impróprio para Menores.
Tomava-lhe o tempo,
sobretudo, o jornalismo, havendo trabalhado numa série de folhas, como A
Esquerda, A Batalha, A noite e o Diário de Notícias.
Em 1936, casou-se com Lúcia
Benedetti, paulista, professora num colégio de Niterói, e que, por essa época,
começava a iniciar-se na literatura. Publica o seu segundo livro Fuga e
outros Contos.
Como correspondente no
estrangeiro, foi mandado pelo jornal A Noite ao Paraguai durante a
Guerra do Chaco, tendo escrito reportagens que foram simultaneamente
transcritas em jornais de Assunção (Paraguai) e La Paz (Bolívia).
Em missão jornalística, passou três anos nos Estados Unidos. Foi assistente
especial do escritório do Coordenador de Assuntos Interamericanos, que era
então Nelson Rockefeller, posto em que permaneceu de 1942 a 1944. Colaborou no The New York Times,
Pan-American Magazine, American Mercury e Theatre Arts. De
volta ao Brasil, participou da redação da revista Brazilian-American,
que então se publicava em inglês no Rio de Janeiro.
Nas empresas A Noite, secretariou
Magalhães A Noite Ilustrada e, a convite de Vasco Lima, dirigiu a Carioca
e lançou o Vamos Ler.
Em 1940, foi pela primeira
vez aos Estados Unidos, onde passou oito meses, traduzindo legendas para
filmes, trabalhando em publicidade e enviando artigos para A Noite.
Em 1941, publicou, em
colaboração com Lúcia Benedetti Chico Virabicho e Outras Histórias -
literatura infantil.
Na política, assinou
Manifesto da Esquerda Democrática, que se converteu, em seguida, no Partido
Socialista Brasileiro, pelo qual, em 1949, foi eleito vereador à Câmara do
Distrito Federal, sendo reeleito em 1954.
Em 1952, visitou a Europa
como Presidente da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, sendo membro da
mesma e seu diretor desde 1959 até o seu falecimento.
Como autor teatral, escreveu
mais de três dezenas de revistas, comédias e peças dramáticas, entre as quais
sobressaem Carlota Joaquina, O imperador galante, Vila Rica, Canção dentro
do pão e Essa mulher é minha.
Em 1956, foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras.
Era um incansável
pesquisador, e do seu trabalho de pesquisa resultaram várias biografias,
antologias, dicionários, ensaios e, sobretudo, os volumes da obra esparsa de
Machado de Assis: Contos sem data, Contos esparsos, Contos avulsos, Contos e
crônicas, Contos de Lélio e Diálogos e reflexões de um relojoeiro.
Machadiano perspicaz, procurou determinar uma série de revelações sobre o autor
de Dom Casmurro.
Como poeta, aparece na
Antologia dos poetas bissextos contemporâneos, de Manuel Bandeira. Algumas de
suas traduções de poetas franceses são reproduzidas na Antologia da poesia
universal organizada por Sérgio Milliet. Como contista, teve trabalhos incluídos
nas seguintes antologias: Contos do Brasil, de D. Lee Hamilton e Ned
Fahs (EUA); Antologia do Carnaval, de Wilson Lousada; História de
crimes e criminosos, de Edgard Cavalheiro e Raimundo de Menezes; Contos
e novelas, de Graciliano Ramos; Brazilian Short Stories, de William
Grossman.
Obteve vários prêmios
literários, entre os quais o Prêmio do Serviço Nacional do Teatro, em 1940; o
Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal (1972);
o Prêmio Juca Pato, como o "Intelectual do Ano", da União Brasileira
de Escritores (1974). Antes de seu ingresso na Academia, obtivera os Prêmios
Artur Azevedo (teatro), em 1945; José Veríssimo (ensaio e crítica); Carlos de
Laet (crônica), em 1945; Prêmio Sílvio Romero (ensaio), em 1953.
Era membro efetivo do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e sócio correspondente dos
Institutos Históricos e Geográficos de São Paulo e do Ceará.
Obras
1. Impróprio
para menores, 1934.
2.
Fuga e outros contos, 1936.
3.
Chico-vira-bicho e outras histórias (literatura infantil), 1942.
4.
Janela aberta, 1945.
5.
Quero em teu seio adormecer, 1970.
6.
O homem que fica (teatro), 1934.
7.
Um judeu (teatro), 1939.
8.
Mentirosa (teatro), 1939.
9.
Carlota Joaquina (teatro), 1940.
10.
A família Lero-lero (teatro), 1941.
11.
Trio em lá menor (teatro),
1942.
12.
Novas aventuras da família Lero-lero (teatro), 1945.
13.
O testa-de-ferro (teatro), 1945.
14.
Vila Rica (teatro), 1945.
15.
O imperador galante (teatro), 1946.
16.
Canção dentro da pão (teatro), 1945.
17.
Artur Azevedo e sua época (biografia e ensaio), 1953.
18.
Idéias e ../imagens de Machado de Assis (biografia e ensaio),
1956.
19.
Machado de Assis, funcionário público (biografia e ensaio), 1958.
20.
Machado de Assis desconhecido (biografia e ensaio), 1955.
21.Ao
redor de Machado de Assis (biografia e ensaio), 1958.
22.
Três panfletos do Segundo Reinado (biografia e ensaio), 1956.
23.
O fabuloso Patrocínio Filho (biografia e ensaio), 1957.
24.
Deodoro a espada contra o Império (biografia e ensaio), 1957.
25.
Poesia e vida de Cruz e Sousa (biografia e ensaio), 1961.
26.
Poesia e vida de Álvares de Azevedo (biografia e ensaio), 1962.
27.
Poesia e vida de Casimiro de Abreu (biografia e ensaio), 1965.
28.
Rui: o homem e o mito (biografia e ensaio), 1964.
29.
A vida turbulenta de José do Patrocínio (biografia e ensaio),
1969.
30.
Martins Pena e sua época (biografia e ensaio), 1971.
31.
José de Alencar e sua época (biografia e ensaio), 1971.
32.
Olavo Bilac e sua época (biografia e ensaio), 1974.
33.
Poesia e vida de Augusto dos Anjos (biografia e ensaio), 1977.
34.
A vida vertiginosa de João do Rio (biografia e ensaio), 1978.
35. Dicionário de coloquialismos
anglo-americanos, provérbios, idiotismos e frases feitas, 1964.
36. Dicionários de citações brasileiras
(dicionário), 1971.
37. Dicionário brasileiro de
provérbios, locuções e ditos curiosos (dicionário), 1974.
38. Como você se chama? (dicionário),
1974.
39. De Machado de Assis, Contos e
crônicas (obra organizada), 1958.
40. Contos esparsos.
41. Contos esquecidos.
42. Contos recolhidos.
43. Contos avulsos.
44. Contos sem data.
45. Crônicas de Lélio.
46. Diálogos e reflexões de um
relojoeiro, 1966.
47. Histórias brejeiras, contos
escolhidos, 1962.
Fontes consultadas
Raimundo de Menezes, Dicionário
literário brasileiro, 2. ed.
Academia Brasileira de
Letras, Imortais.
Renard Perez, Escritores
Brasileiros Contemporâneos, 2.ª série.
Fonte:LINGUATIVA o portal de quem fala português. visita: 23mar2016
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