terça-feira, junho 05, 2012

COMO TUDO NA VIDA...


NA  BEIRA  DO  LAGO


Poderia  eu  estar
Do  planeta  em  qualquer  lugar.
No  ártico gelado
Ou  no  deserto  árido
Da  Arábia  milenar.

Mas  eu  estou  mesmo,
Neste  momento  exato,
É  a  ouvir  o  buliçoso  cantar 
dos  pássaros  Invisíveis  que, 
pousados  nas  folhas  do  capim  farfalhante
Fazem  disputa  de  gorjeios
 Ao  sol  das  dez  horas,
Na  beira  da  barragem  do  Boi  Morto,


No  mesmo  ambiente,
em  outro  canto,
e  sem  pressa,
estão  pessoas  num  leve  bate - papo.
O  tempo  se  corrói  vagarosamente.
E  eu  apenas   ouço  os  pássaros
E  vejo  as  pequenas  ondas
Que  se  formam  em  função  do  vento  manso
Que  ameniza  o  espaço.
Recebo  a  dádiva  da  luz  solar
Que  se  derrama  sobre  as  minhas  costas.
Não    correrias  nem  atropelos.
  apenas  calma, tranqüilidade  e  paz.
Ao  lado,  na  estradinha  de  terra  vermelha,
Um  carro  -  de  -  bois  passa,
Cantando  a   repetitiva  cantiga
Provocada  pelo  atrito  da  madeira  amiga.
Como  na  vida,
Tudo  em  volta,
Cumpre  o  seu  destino.

Ao  longe e à  frente,
Buritis,  mato  ressequido  do  verão  carrascal
E  outras  árvores  que  se  destacam
Pelo  vermelhidão  de  suas  copas.
São  flamboians  mágicos,  lindos.
Na  pedra,  sentado,
Quedo - me   na  busca  da  beleza
dos  objetos   e  das  pessoas
Com  os  olhos  nítidos 
do  espírito  pacificado.


Os  pássaros   cantantes  ainda  estão  lá,
no  capim  que  balança  sobre  as  águas;
As  pessoas  também.
O  urubu  que,  de  asas  abertas,
navega  a  favor  do  vento,
Mergulhando  no  céu  azul,
Vai  e  volta, sem  aparente  contradição.

A menina  Mércia  também  compõe  o  cenário.
Ela   de  nada  tem  preocupação.
Brinca,  apenas.  
Esparge  água.
Fala.
Monta  figuras  de  areia.
Mais  do  que  ninguém, 
ela  sim,
Como  uma  flor,
Não  tem  pressa  nenhuma,
Pois  é  ainda  como  um  pássaro
Que  não  semeia  nem  colhe;
É  também  como  um  flamboiã
Ou  um  aguapé  de  folhas  miúdas
Que  dança  a  favor  das  diminutas  ondas,
Destituída  dos  germes  que  corrompem  as  sociedades.

À  beira  do  lago  permaneço.
Meus  cabelos se  vão  tornando fios  de  prata,
O  rio  vermelho  que  corre  dentro  de  mim,
No  intrincado  de  riachos  e  córregos, 
Antes  forte  e  veloz,
Vai  perdendo  a  força, lentamente. 
Apenas  sinto  no  rosto o  vento  macio
Que  mexe  com  a  areia  sob  os   meus  pés.

E  tudo  passa,  calmamente
E  o  destino  despido,
É  cumprido,
Como  a  ferrugem  vagarosa
 que  come  o  ferro  despercebido.
Como  na  vida,
Tudo  em  volta,
Cumpre  o  seu  destino.

Messias  Costa/2006

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