Figuras da MINHA
INFÂNCIA
MÃE
CHIQUINHA CORREIA
HOMENAGEM
Foi dessa
forma que me
acostumei a chamar
aquela velhinha pobre,
miúda e feia:
Mãe Chiquinha. Suponho
que o seu
nome de batismo
era Francisca Correia.
Vaidade no vestir
nunca teve nenhuma,
pois as suas
posses, em momento
algum, proporcionaram a
ela a possibilidade
de ter um
vestido de tecido
mais caro ou,
no mínimo, melhor
do que os
“panos de chita”,
vendidos no meio
da feira de
domingo. Na verdade,
somente um vestido comprido
de chita barata,
de bolinhas ou
frorzinhas, cobrindo – lhe até
os calcanhares, era
a sua vestimenta
do dia – a – dia. O
corpo, magro e
inclinado para a
frente, levava ainda
um pedaço de
outro tecido, geralmente
algodãozinho, volteando –
lhe o
pescoço fino e
ossudo; era parte
importante contra o
frio serrano na hora
dentro do fundo
da noite. O
rosto pequeno era
todo engelhado. Tinha
o hábito de
pitar um cachimbo
de barro, sendo
este o seu
maior divertimento e
companheiro das horas
noturnas e solitárias.
Era corajosa,
destemida. Vez ou
outra deve ter
se desviado de
guaxinins nas baixas
e raposas chocas
nas matas. Também
deve ter se
encontrado com lobisomens,
amortalhados, almas peidonas
e outras marmotas
nas encruzilhadas daqueles
tempos, pois se
era chamada para
atender uma gestante
em trabalho de
parto, que não
espera, deixava a
humilde casinha onde
morava pelos lados
do Jenipapo, a
qualquer tempo e
temperatura. Podia estar
chovendo a maior
chuva, mas Mãe
Chiquinha não se
negava e corria logo,
com o pé
na chinela e
com o auxílio
de sua bengala
de jucá, para
fazer vir ao
mundo mais um
filho de Ubajara.
E quantos não
foram! Naquela época,
ricos e pobres
precisavam da parteira;
os médicos e
hospitais eram escassos
e os recursos
diminutos. E mãe
Chiquinha era parteira
gabaritada e muito
requisitada.
Os tempos,
os ganhos e
a vida eram
difíceis. Os carros
eram poucos. Os
rádios ABC ou
Canarinho é que
cantavam nas casas
e “davam” as
horas. Naquela época
não se falava
em aposentadoria. Mãe
Chiquinha, minha mãe
Chiquinha, que “me
pegou” quando nasci
lá para as
bandas da Chapadinha,
já no acabar
da madrugada fria
e enevoada do
dia do nascimento
do Salvador do
mundo, passou fome e morreu
pobre e desvalida.
A
homenagem deste blogueiro
a Mãe Chiquinha
é simples, mas
ela é merecedora,
sem dúvida.
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