terça-feira, junho 19, 2012

MÃE CHIQUINHA: PARTEIRA


                                                                                                            Figuras  da  MINHA  INFÂNCIA 

MÃE  CHIQUINHA  CORREIA
                                                                           HOMENAGEM

                     Foi  dessa  forma  que  me  acostumei  a  chamar  aquela  velhinha  pobre,  miúda  e  feia:  Mãe  Chiquinha.  Suponho  que  o  seu  nome  de  batismo  era  Francisca  Correia.   Vaidade  no  vestir  nunca  teve  nenhuma,  pois  as  suas  posses,  em  momento  algum,  proporcionaram  a  ela  a  possibilidade  de  ter  um  vestido  de  tecido  mais  caro  ou,  no  mínimo,  melhor  do  que  os  “panos  de  chita”,  vendidos  no  meio  da  feira  de  domingo.  Na  verdade,  somente  um  vestido  comprido   de  chita  barata,  de  bolinhas  ou  frorzinhas,  cobrindo – lhe  até  os  calcanhares,  era  a  sua  vestimenta  do  dia – a – dia.  O  corpo,  magro  e  inclinado  para  a  frente,  levava  ainda  um  pedaço  de  outro  tecido,  geralmente  algodãozinho,  volteando – lhe  o  pescoço  fino  e  ossudo;  era  parte  importante   contra  o  frio  serrano na  hora  dentro  do  fundo   da  noite.  O  rosto  pequeno  era  todo  engelhado.  Tinha  o  hábito  de  pitar  um  cachimbo  de  barro,  sendo  este  o  seu  maior  divertimento  e  companheiro  das  horas  noturnas  e  solitárias.
                   Era  corajosa,  destemida.  Vez  ou  outra  deve  ter  se  desviado  de  guaxinins  nas  baixas  e  raposas  chocas  nas  matas.   Também  deve  ter  se  encontrado  com   lobisomens,  amortalhados,  almas  peidonas   e   outras  marmotas   nas  encruzilhadas   daqueles  tempos,  pois  se  era  chamada  para  atender  uma  gestante  em  trabalho  de  parto,  que  não  espera,  deixava  a  humilde  casinha  onde  morava  pelos  lados  do  Jenipapo,  a  qualquer  tempo  e  temperatura.  Podia  estar  chovendo  a  maior  chuva,  mas  Mãe  Chiquinha  não  se  negava  e  corria  logo,  com  o    na  chinela  e  com  o  auxílio  de  sua  bengala  de  jucá,   para  fazer  vir  ao  mundo  mais  um  filho  de  Ubajara.   E  quantos  não  foram!  Naquela  época,  ricos  e  pobres  precisavam  da  parteira;  os  médicos  e  hospitais  eram  escassos  e  os  recursos  diminutos.  E  mãe  Chiquinha  era  parteira  gabaritada  e  muito  requisitada.     
                  Os  tempos,  os  ganhos  e  a  vida   eram  difíceis.  Os  carros  eram  poucos.  Os  rádios  ABC  ou  Canarinho  é  que  cantavam  nas  casas  e  “davam”  as  horas.   Naquela  época  não  se  falava  em  aposentadoria.  Mãe  Chiquinha,  minha  mãe  Chiquinha,  que  “me  pegou”  quando  nasci    para  as  bandas  da  Chapadinha,    no  acabar  da  madrugada  fria  e  enevoada  do  dia  do  nascimento  do  Salvador  do  mundo,  passou  fome  e   morreu  pobre  e  desvalida. 
              A  homenagem  deste  blogueiro  a  Mãe  Chiquinha  é  simples,  mas  ela  é  merecedora,  sem  dúvida.

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