quarta-feira, junho 20, 2012

QUEM NÃO VIU... Claro, não sabe o que perdeu.

Um  autor,  do  principio  da  literatura  brasileira,  que  considero  de  muita  importância: padre  Antonio  Vieira.  Quem  conhece  a  sua  escrita  está  bem;  quem  não  conhece,  precisa  urgentemente  ler  os  seus  SERMÕES  e  CARTAS.  O  Sermão  intitulado  "Amor  e  Ódio"  está  aí,  para  o  deleite  do  blognauta:

"As  paixões  do  coração  humano,  como  as  divide  e  enumera  Aristóteles,  são  onze;  mas  todas  elas  se  reduzem  a  duas  capitais:  amor  e  ódio.  E  estes  dois  afetos  cegos  são  os  dois  polos  em  que  se  revolve  o  mundo,  por  isso  tão  mal  governado.  Eles  são  os  que  pesam  os  merecimentos,  eles  os  que  qualificam  as  ações,  eles  os  que  avaliam  as  prendas,  eles  os  que  repartem  as  fortunas.  Eles  são  os  que  enfeitam  ou  descompõem,  eles  os que  fazem  ou  aniquilam,  eles  os  que  pintam  ou  despintam  os  objetos,  dando  e  tirando  a  seu  arbítrio  a  cor,  a  figura,  a  medida  e  ainda  o  mesmo  ser  e  substância,  sem outra  distinção  ou  juizo  que  aborrecer  ou  amar.  Se  os  olhos  veem  com  amor,  o  corvo  é  branco;  se  com  ódio,  o  cisne  é  negro;  se  com  amor,  o  demônio  é  formoso,  se  com  ódio,  o  anjo  é  feio;  se  com  amor,  o  pigmeu  é  gigante;  se  com  ódio,  o  gigante  é  pigmeu;  se  com  amor,  o  que  não  é  tem  ser;  se  com  ódio,  o  que  tem  ser  e  é  bem  que  seja  ,  não  é  nem  será  jamais.  Por  isso  se  veem  com  perpétuo  clamor  de  justiça  os  indignos  levantados  e  as  dignidades  abatidas;  os  talentos  ociosos  e  as  incapacidades  com  mando;  a  ignorância  graduada  e  a  ciência  sem  honra;  a  fraqueza  com  bastão  e  o  valor  posto  a  um  canto;  o  vício  sobre  os  altares  e  a  virtude  sem  culto;  os  milagres  acusados  e  os  milagrosos  réus.  Pode  haver  maior  violência  da  razão?  Pode  haver  maior  escândalo  da  natureza?  Pode  haver  maior  perdição  da  república?  Pois  tudo  isto  é  o  que  faz  e  desfaz  a  paixão  dos  olhos  humanos,  cegos  quando  amam  e  cegos  quando  aborrecem;  cegos  quando  aprovam  e  cegos  quando  condenam;  cegos  quando  não  veem  e  quando  veem  muito  mais  cegos."
                                                                      Sermão  da  Quarta - Feira,  Lisboa, 1669

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