QUANTA
ATUALIDADE DE VIEIRA
LADRÕES
Navegava Alexandre
em uma poderosa
armada pelo mar
Eritreu a conquistar
a India e
como fosse trazido
à sua presença
um pirata que
por ali andava,
roubando os pescadores,
repreendeu – o muito Alexandre
de andar em
tão mau ofício;
porém ele, que
não era medroso
nem lerdo, respondeu
assim: Basta, Senhor,
que eu, porque
roubo em uma
barca, sou ladrão,
e vós, porque
roubais em uma
armada, sois imperador?
Assim é. O
roubar pouco é
culpa, o roubar
muito é grandeza;
o roubar com
pouco poder faz
os piratas, o
roubar com muito,
os Alexandres. (...) O
LADRÃO QUE FURTA
PARA COMER, NÃO
VAI NEM LEVA
AO INFERNO; OS
QUE NÃO SÓ VÃO, MAS
LEVAM, DE QUE
EU TRATO, SÃO
OUTROS LADRÕES DE
MAIOR CALIBRE E
DE MAIS ALTA
ESFERA; os quais
debaixo do mesmo
nome e do
mesmo predicamento distingue
muito bem São
Basílio. Não só
são ladrões, diz
o santo, os
que cortam bolsas
ou espreitam os
que se vão
banhar para lhes
colher a roupa,
OS LADRÕES QUE
MAIS PRÓPRIA E
DIGNAMENTE MERECEM ESTE
TÍTULO SÃO AQUELES
A QUEM OS
REIS ENCOMENDAM OS
EXÉRCITOS E LEGIÕES
OU OS GOVERNOS
DAS PROVÍNCIAS, OU A
ADMINISTRAÇÃO DAS CIDADES,
os quais já
com muita manha,
já com força
roubam e despojam
os povos. OS
OUTROS LADRÕES ROUBAM
UM HOMEM; ESTES
ROUBAM CIDADES E
REINOS; OS OUTROS
FURTAM DEBAIXO DO
SEU RISCO, ESTES
SEM TEMOR NEM
PERIGO; OS OUTROS FURTAM E SÃO
ENFORCADOS; ESTES FURTAM
E ENFORCAM.
Diógenes,
que tudo via
com mais aguda
vista que os
outros homens, viu
que uma grande
tropa de varas
e ministros de
justiça levavam a
enforcar uns ladrões
e começou a
bradar: Lá vão os
ladrões grandes a
enforcar os pequenos. (...)
Trechos Escolhidos.
Vieira. Livraria Agir
Editora. São Paulo
1970.
Mecostarte. Oportuníssimamente atual
este SERMÃO DO BOM LADRÃO,
proferido pelo padre
Antonio Vieira, em
Lisboa, em 1655.
Incrível: em 1665!
Com tantas situações
similares no País
e no mundo,
de onde está,
Padre Antonio Vieira
apenas sorri, pois
nada mais pode
combater, como o
fazia na sua
época, por meio
dos seus escritos
tão importantes.
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