quinta-feira, agosto 02, 2012

SERMÃO OPORTUNO DE VIEIRA


QUANTA  ATUALIDADE  DE  VIEIRA

LADRÕES

           Navegava  Alexandre  em  uma  poderosa  armada  pelo  mar  Eritreu  a  conquistar  a  India  e  como  fosse  trazido  à  sua  presença  um  pirata  que  por  ali  andava,  roubando  os  pescadores,  repreendeu – o  muito  Alexandre  de  andar  em  tão  mau  ofício;  porém  ele,  que  não  era  medroso  nem  lerdo,  respondeu  assim:  Basta,   Senhor,    que  eu,  porque  roubo  em  uma  barca,  sou  ladrão,  e  vós,  porque  roubais  em  uma  armada,  sois  imperador?  Assim  é.  O  roubar  pouco  é  culpa,  o  roubar  muito  é  grandeza;  o  roubar  com  pouco  poder  faz  os  piratas,  o  roubar  com  muito,  os  Alexandres. (...)  O  LADRÃO  QUE  FURTA  PARA  COMER,  NÃO  VAI    NEM  LEVA  AO  INFERNO;  OS  QUE  NÃO    VÃO,  MAS  LEVAM,  DE  QUE  EU  TRATO,  SÃO  OUTROS  LADRÕES  DE  MAIOR  CALIBRE  E  DE  MAIS  ALTA  ESFERA;  os  quais  debaixo  do  mesmo  nome  e  do  mesmo  predicamento  distingue  muito  bem  São  Basílio.  Não    são  ladrões,  diz  o  santo,  os  que  cortam  bolsas  ou  espreitam    os  que  se  vão  banhar  para  lhes  colher  a  roupa,  OS  LADRÕES  QUE  MAIS  PRÓPRIA  E  DIGNAMENTE  MERECEM  ESTE  TÍTULO  SÃO  AQUELES  A  QUEM  OS  REIS  ENCOMENDAM  OS  EXÉRCITOS    E  LEGIÕES  OU  OS  GOVERNOS  DAS  PROVÍNCIAS,  OU  A ADMINISTRAÇÃO  DAS  CIDADES,  os  quais    com  muita  manha,    com  força  roubam  e  despojam  os  povos.  OS  OUTROS  LADRÕES  ROUBAM  UM  HOMEM;  ESTES  ROUBAM  CIDADES  E  REINOS;  OS  OUTROS  FURTAM  DEBAIXO  DO  SEU  RISCO,  ESTES  SEM  TEMOR  NEM  PERIGO;  OS  OUTROS   FURTAM  E  SÃO  ENFORCADOS;  ESTES  FURTAM  E  ENFORCAM.
           Diógenes,  que  tudo  via  com  mais  aguda  vista  que  os  outros  homens,  viu  que  uma  grande  tropa  de  varas  e  ministros  de  justiça  levavam  a  enforcar  uns  ladrões  e  começou  a  bradar: Lá  vão  os  ladrões  grandes  a  enforcar  os  pequenos. (...)   
Trechos  Escolhidos.  Vieira.  Livraria  Agir  Editora.  São  Paulo  1970.
Mecostarte.  Oportuníssimamente  atual  este  SERMÃO  DO  BOM  LADRÃO,  proferido  pelo  padre  Antonio  Vieira,  em  Lisboa,  em  1655.  Incrível:  em  1665!  Com  tantas  situações  similares  no  País  e  no  mundo,  de  onde  está,  Padre  Antonio  Vieira  apenas  sorri,  pois  nada  mais  pode  combater,  como  o  fazia  na  sua  época,  por  meio  dos  seus  escritos  tão  importantes.

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