DISPERSÃO
Mário de Sá
Carneiro
Perdi – me dentro
de mim
Porque eu era
labirinto
E hoje, quando
me sinto,
É com saudades
de mim.
Passei pela minha
vida
Um astro doido
a sonhar.
Na ânsia de
ultrapassar,
Nem dei pela
minha vida...
Para mim é
sempre ontem,
Não tenho amanhã
nem hoje;
O tempo que
aos outros foge
Cai sobre mim
feito ontem.
O domingo de
Paris
Lembra – me o desaparecido
Que sentia comovido
Os domingos de
Paris.
(...)
Nascido em
Lisboa em 19
de Maio de
1890, Mário de
Sá Carneiro foi
contemporâneo de Fernando
Pessoa, com quem
trocou cartas. Pertence
à geração de
Orpheu, a revista
que, idealizada no
Brasil por Luis
de Montalvor e
Ronald de Carvalho,
pretendia comunicar a
nova mensagem européia,
preocupada apenas com
a beleza exprimível
pela poesia, inspirada
no simbolismo de
Verlaine, Mallarmé e Camilo
Pessanha, no futurismo
de Marinetti, Picasso
e Walt Whitman,
no super realismo
de André Breton.(...)
Dias antes do
suicídio, Sá – Carneiro enviara
a Pessoa o
manuscrito de seu
livro inédito de
poesias Indícios de Oiro, para
que o amigo
o publicasse “onde,
quando e como
lhe parecesse melhor”.
Em 1914 já
publicara outros doze
poemas com o
título de Dispersão.
Estes dois volumes
e mais os Últimos Poemas
constituem toda a obra poética
daquele que, como
previra, só seria
entendido vinte anos
mais tarde. (...)
Fonte: Nossos Clássicos, Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1958.
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