quinta-feira, agosto 16, 2012

SÁ-CARNEIRO, POESIA


DISPERSÃO

                         Mário  de    Carneiro

Perdi – me  dentro  de  mim
Porque  eu  era  labirinto
E  hoje,  quando  me  sinto,
É  com  saudades  de  mim.

Passei  pela  minha  vida
Um  astro  doido  a  sonhar.
Na  ânsia  de  ultrapassar,
Nem  dei  pela  minha  vida...

Para  mim  é  sempre  ontem,
Não  tenho  amanhã  nem  hoje;
O  tempo  que  aos  outros  foge
Cai  sobre  mim  feito  ontem.

O  domingo  de  Paris
Lembra – me  o desaparecido
Que  sentia  comovido
Os  domingos  de  Paris.

(...)

Nascido  em  Lisboa  em  19  de  Maio  de  1890,  Mário  de    Carneiro  foi  contemporâneo  de  Fernando  Pessoa,  com  quem  trocou  cartas.  Pertence  à  geração  de  Orpheu,  a  revista  que,  idealizada  no  Brasil  por  Luis  de  Montalvor  e  Ronald  de  Carvalho,  pretendia  comunicar  a  nova  mensagem  européia,  preocupada  apenas  com  a  beleza  exprimível    pela  poesia,  inspirada  no  simbolismo  de  Verlaine, Mallarmé  e  Camilo  Pessanha,  no  futurismo  de  Marinetti,  Picasso  e  Walt  Whitman,  no  super  realismo  de  André  Breton.(...)  Dias  antes  do  suicídio,  Sá – Carneiro  enviara  a  Pessoa  o  manuscrito  de  seu  livro  inédito  de  poesias  Indícios  de  Oiro,  para  que  o  amigo  o  publicasse  “onde,  quando  e  como  lhe  parecesse  melhor”.  Em  1914    publicara  outros  doze  poemas  com  o  título  de  Dispersão.  Estes  dois  volumes  e  mais  os  Últimos  Poemas  constituem  toda  a  obra  poética  daquele  que,  como  previra,    seria  entendido  vinte  anos  mais  tarde. (...)
                                                Fonte:  Nossos  Clássicos, Livraria  Agir  Editora,  Rio  de  Janeiro,  1958. 

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