segunda-feira, fevereiro 25, 2019

PATATIVA QUE ENCANTA



Fonte  Diário  do  Nordeste  25 jan 2019
Parabéns  ao  jornal  Diário  do  Nordeste  pela  matéria  sobre  PATATIVA  DO  ASSARÉ  ou  ANTONIO  GONÇALVES  DA  SILVA,  que  nasceu  pobre,  mas  tinha  alma  riquissima!



PATATIVA DO ASSARÉ
(1909-2002)

 
Autobiografia de Patativa do Assaré


Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui, no Sítio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Meu pai, agricultor muito pobre, era possuidor de uma pequena parte de terra, a qual depois de sua morte, foi dividida entre cinco filhos que ficaram, quatro homens e uma mulher. Eu sou o segundo filho. Quando completei oito anos, fiquei órfão de pai e tive que trabalhar muito, ao lado de meu irmão mais velho, para sustentar os mais novos, pois ficamos em completa pobreza. Com a idade de doze anos, freqüentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito o trabalho de agricultor. Saí da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não freqüentei mais escola nenhuma, porém sempre lidando com as letras, quando dispunha de tempo para este fim. Desde muito criança que sou apaixonado pela poesia, onde alguém lia versos, eu tinha que demorar para ouvi-los. De treze a quatorze anos comecei a fazer versinhos que serviam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: Brincadeiras de noite de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos, que deixavam o mato estragar os plantios das roças, etc. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam. Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosado e recitado, quando alguém me convida para este fim.

AMANHÃ

Amanhã, ilusão doce e fagueira,
Linda rosa molhada pelo orvalho:
Amanhã, findarei o meu trabalho,
Amanhã, muito cedo, irei à feira.

Desta forma, na vida passageira,
Como aquele que vive do baralho,
Um espera a melhora no agasalho
E outro, a cura feliz de uma cegueira.

Com o belo amanhã que ilude a gente,
Cada qual anda alegre e sorridente,
Como quem vai atrás de um talismã.

Com o peito repleto de esperança,
Porém, nunca nós temos a lembrança
De que a morte também chega amanhã.  



VIVA O POVO BRASILEIRO

Quando passar a chacina
Que surge de dia a dia
E o tráfico de cocaína
E a real democracia
Seguir os caminhos certos
E os Chicos Mendes libertos
Das balas do pistoleiro
Diremos em nossa terra
Por vales, sertão e serra:
VIVA O POVO BRASILEIRO!
Quando o artista que tem fama
E ocupa o televisor
Só apresentar programa
De moral, de paz e amor,
Quando o cruel mercenário,
Este monstro sanguinário,
Deixar de ganhar dinheiro
Pra matar seu semelhante
E não houver assaltante,
VIVA O POVO BRASILEIRO!
Quando o infeliz agregado
Se libertar do patrão
Para viver sossegado
No seu pedaço de chão;
Quando uma reforma agrária
Que sempre foi necessária
Para o caboclo roceiro
For criada e registrada
Em nossa Pátria Adorada
VIVA O POVO BRASILEIRO!
O sonho de nossa gente
Foi sempre viver feliz
Trabalhando independente
Em nosso grande país.
Quando o momento chegar
Do nosso Brasil pagar
O que deve ao estrangeiro
O maior prazer teremos
E libertos gritaremos:
VIVA O POVO BRASILEIRO!

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TATIANNI CARNEIRO CRUZ escreveu

  Está  no  Trabalho  de  TATIANNI  CARNEIRO  CRUZ