(...)
O automóvel sumiu – se na
noite.
E, no brejo,
os sapos coaxavam
agora uma estória
complicadíssima, de um
sapo velho, sapo – rei de
todos os sapos,
morrendo e propondo
o testamento à
saparia maluca, enquanto que,
como todo sapo
nobre, ficava assentado,
montando guarda no
próprio ventre.
- “Quando eu
morrer, quem é que fica
com os meus
filhos?”...
_ “Eu não...Eu não! ... Eu
não!...Eu não!...
(Pausa para o
sapo velho soltar
as últimas bolhas,
na água de
emulsão.)
-“Quando eu morrer,
quem é que
fica com a
minha mulher?”
-“ É eu! É eu! É eu! É eu! É eu!”...
Major Anacleto chama
Lalino, e as
mulheres trazem Maria
Rita, para as
pazes. O chefão
agora é quem
se ri, porque
a mulherzinha chora
de alegria e
Lalino perdeu o
jeito. Mas, alumiado
por inspiração repentina,
o Major vem
para a varanda,
convocando os bate – paus:
- Estêvam! Clodino!
Zuza! Raimundo! Olhem:
amanhã cedo vocês
vão lá nos
espanhóis, e mandEm
aqueles tomarem rumo!
É para sumirem.
Já, daqui!... Pago
a eles o valor do
sítio. Mando levar
o cobre. Mas
é para irem
p´ra longe!
E os bate – paus abandonam
o foguinho do
pátio, e, contentíssimos, porque
de há muito
tempo têm estado
inativos, fazem côro:
“Pau! Pau!
Pau!
Pau
de jacarandá!...
Depois
do cabra na
unha,
Quero ver
quem vem tomar!...”
E os sapos
agora se interpelam
e se respondem,
com alternâncias estranhas,
mas em unanimidade
atordoante:
-Chico? - Nhô!?
- Você vai?
- Vou!
-Chico? - Nhô!?
- Cê vai?
- Vou!
Trecho de A VOLTA
DO MARIDO PRÓDIGO,
em Sagarana, de
João Guimarães Rosa.
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