sexta-feira, novembro 13, 2015

JÁ TOMOU PILULA DE MATOS? REVENDO





PILULA  DE  MATOS



No Brasil a cura de enfermidades através do uso de plantas medicinais se mantém graças à força da tradição, algumas iniciativas isoladas e a alguns poucos pesquisadores que dedicam suas vidas pesquisando nossa rica flora tentando catalogar cientificamente seus benefícios.
Nas feiras também encontramos raizeiros com suas garrafadas mas, geralmente, não são confiáveis.
A "pilula do mato", uma associação da "batata-de-purga" e da "cabacinha", desenvolvida pelo Dr.Matos em 1888, é um dos raros exemplos de remédio natural que teve amplo uso entre a população. Foi o primeiro fármaco natural registrado oficialmente no país.
Mais da metade das 120 mil espécies de plantas existentes no mundo se encontra no Brasil, principalmente na Amazônia. A pirataria biológica campeia nessa região sob os olhares míopes das autoridades (ir)responsáveis.
Nossas plantas poderiam ser usadas em larga escala pela população a um custo muitíssimo menor.

A Luffa operculata é uma dicotiledônea da família Cucurbitaceae. Dentre vários nomes populares, é mais conhecida como buchinha-do-norte ou cabacinha no Brasil, e esponjuelo ou esponjilla na América Latina. (Figura 1). Aqui, seu uso é secular. As "Pílulas Purgativas de Resina de Batata e Momordica bucha do Cirurgião Mattos", ou "pílulas do mato" foram por muitos anos o fitoterápico de maior preferência no meio rural do Norte e Nordeste do Brasil. Um extrato aquoso de Luffa operculata em associação com outras ervas origina a "garrafada", mistura conhecida no interior e no Nordeste brasileiros como abortiva e purgativa, demonstrando a ação de poderoso irritante de mucosas. Hoje existe no mercado nacional um preparado para uso nasal à base de Luffa operculata 1% e soro fisiológico, de venda livre nas farmácias7

O fascínio do doutor em farmacologia José Abreu Matos pelas plantas medicinais tem longa história. Seu bisavô já era farmacêutico e registrou, em 1888, a Pílula Matos, considerada o primeiro medicamento fitoterápico do Brasil – servia como analgésico, anti-inflamatório, diurético e laxante. Ainda hoje a Pílula do Mato, como ficou conhecida, está no mercado.

Doutor Matos, que morreu em 2008, aos 84 anos, era um curioso. Para saber mais sobre as plantas, realizou durante muitos anos expedições, junto com o botânico Afrânio Fernandes, pelos rincões do Nordeste brasileiro, onde teve a oportunidade de entrar em contato com descendentes de índios, quilombolas, curandeiros, benzedeiras.

Depois, as informações eram analisadas nos laboratórios da universidade. “O trabalho do doutor Matos se assemelha ao de grandes naturalistas do Império, como Carl von Martius ou Freire Alemão”, comenta a doutora Mary Anne Bandeira, em alusão aos líderes de excursões científicas que, no século XIX, desbravaram os sertões brasileiros, catalogando plantas e animais.

Estima-se que, mesmo com reduzida estrutura, o doutor Matos conseguiu coletar e trazer para análise nos laboratórios da UFC mais de 2 mil plantas.

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