terça-feira, setembro 27, 2022

PARA ARATICUM O PADROEIRO ANIVERSÁRIO DE MORTE

 


SÃO VICENTE DE PAULO:

quem foi o prisioneiro de piratas que se tornou patrono da caridade

De lares para idosos — tradicionalmente chamados de "asilos" — a abrigos para orfãos, passando por creches e outras instituições, não são poucos os equipamentos assistenciais no país batizados em homenagem a São Vicente de Paulo (1581-1660)

O religioso que empresta seu nome a tantas obras de beneficência foi um padre nascido no interior na França, na região dos Pirineus, que acabou muito conhecido por seu empenho nos trabalhos sociais.

Canonizado em 1737 pelo papa Clemente 12 (1652-1740), ele recebeu o título de patrono de todas as obras de caridade da Igreja Católica — honraria concedida pelo papa Leão 13 (1810-1903), em 1885. SÃO VICENTE É CELEBRADO NO DIA 27 DE SETEMBRO, DATA DE SUA MORTE.

Conforme explica o pesquisador JOSÉ LUÍS LIRA, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia e professor na Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Ceará, esse reconhecimento dado ao religioso por meio de homenagens nos nomes das instituições assistenciais é em decorrência da biografia do mesmo.

"Por causa de seu acolhimento a todos os necessitados, muito especialmente aos idosos que eram largados nas ruas", frisa ele.

Esse ímpeto em atuar em prol dos mais pobres teria acontecido depois de um episódio importante em sua vida, já como sacerdote.

"Ele atuava como missionário, anunciando o evangelho e pregando entre camponeses pobres. Em determinado momento, ele presenciou o morte de um camponês e foi quando percebeu que havia uma carência na sacramentalização da Igreja, pois nem todos morriam recebendo os cuidados devidos", contextualiza o estudioso de hagiologias Thiago Maerki, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos.

"Isso marcou uma reviravolta no pensamento de Vicente e mudou a forma como ele enxergaria o apostolado", acrescenta.

'Homem para os outros'

A partir desse momento, já na segunda metade da década de 1610, o padre francês começou a reunir confrarias e diversos grupos de assistência. Em 1617, fundou a Damas da Caridade, hoje Associação Internacional de Caridades.

No mesmo ano, criou as Confrarias da Caridade. Oito anos mais tarde, fundou a Congregação da Missão. Em 1633, a Filhas da Caridade.

Maerki ressalta que, com essas organizações, Vicente de Paulo buscava soluções para dois pontos importantes no contexto francês da época. De um lado, as obras de caridade e o atendimento aos fiéis. De outro, a formação do clero — e para isso, sua intelectualidade era ferramenta basilar.

"Essas duas ideias são os pilares que construíram sua santidade", pontua.

 

"Havia uma carência de formação teórica e moral do clero. E ele entendia que os padres deveriam ser bem formados para poderem guiar o povo de Deus", comenta o pesquisador.

"São Vicente se preocupou muito com isso. E ao longo de 60 anos de trabalhos, foi um evangelizador incansável, com uma atividade apostólica muito intensa."

Durante seu pontificado, papa João Paulo 2º (1920-2005) definiu São Vicente como "homem de ação e de oração, de organização e de imaginação, de comando e de humildade, homem de ontem e de hoje". E afirmou que o religioso havia sido um camponês "convertido pela graça de Deus em gênio da caridade".

Há uma famosa frase atribuída ao santo que sintetiza bem sua trajetória. "Não me basta amar a Deus se eu não amo o meu próximo. Os pobres são meu peso e minha dor", teria afirmado ele.

Maerki analisa uma inovação vicentina, no contexto da época, a formação de um clero voltado às atividades mais pastorais.

"Segundo a concepção da escola francesa de formação de padres, o sacerdote deveria em primeiro lugar estar ligado ao altar, celebrando missas, dedicando-se aos ritos e a aspectos próprios da Igreja", compara.

"São Vicente propôs a interpretação de que, na verdade, o padre é um 'homem para os outros', alguém que deveria se doar para os necessitados. Este é um elemento fulcral dos ensinamentos dele."

De prodígio a escravizado por piratas

Nascido em uma pobre família de camponeses no ano de 1581, Vicente de Paulo teve uma infância em que se destacou pela inteligência. Decidiu se tornar padre, muito provavelmente, em busca de uma estabilidade de vida que não encontraria de outra forma, dadas as dificuldades de ascensão social.

"Naquele início de século 17, o Estado eclesiástico significava uma espécie de afirmação social. Ser padre era questão de status", pontua Maerki.


São Vicente em pintura do século 17© Domínio Público

Foi ordenado com apenas 19 anos, o que indica, conforme explica Lira, que tenha havido alguma "autorização da Santa Sé, por conta da idade mínima". Sua facilidade de aprendizado e seu afinco aos estudos devem ter sido utilizados para fundamentar tal processo.

Contudo, nunca negou suas origens humildes. "Ele se autodenominava 'porqueiro e andrajoso'", diz o pesquisador Maerki.

Em 1605, foi surpreendido com uma herança. Uma viúva que admirava seu trabalho como pregador morreu e deixou a ele uma propriedade em Marselha, acreditando que Vicente saberia administrar tudo em favor dos pobres.

Ele precisou viajar até lá por conta do inventário e, na volta, acabou vítima de uma emboscada. Piratas turcos o sequestraram, levaram-no a Túnis, onde ele foi escravizado.

Foi vendido primeiro a um pescador, depois a um químico. Quando este morreu, acabou sendo obrigado a servir o sobrinho dele — que acabou vendendo-o para um fazendeiro.

Ali sua sorte mudaria. O fazendeiro era um ex-católico, que havia se convertido ao islamismo com medo de ser perseguido. Vicente fazia os trabalhos que lhe ordenavam e, durante a labuta, costumava entoar cânticos religiosos cristãos.

Uma das três esposas do fazendeiro encantou-se com isso e foi procurar saber o que era. Quando soube, teria dito ao marido. E este, recordando-se de seu passado como cristão, decidiu ajudar o escravizado.

Planejaram o retorno do religioso à França — e o próprio fazendeiro teria se convertido novamente ao cristianismo. Cruzaram o Mediterrâneo juntos e se estabeleceram em Avignon. Vicente assumiu novamente suas funções como padre, estudou direito canônico e se tornou monge.

Destacado por seu trabalho, acabou caindo nas graças até do rei francês, Henrique 4º. (1553-1610), que chegou a incumbi-lo como portador de documentos que precisava remeter ao papa, entre outras tarefas. Como agradecimento, Vicente foi nomeado capelão da rainha e tinha a prerrogativa de atuar como esmoleiro e cuidador de pobres e doentes em nome da coroa.

"Para ele, a caridade era algo essencial. Ele poderia ter se tornado um bispo, com o prestígio que tinha, destacado na vida social e religiosa francesa", pontua Lira. "Mas preferiu servir aos menos favorecidos. Por isso ele fundou entidades religiosas masculina e feminina, para fazer caridade. Levava fé, conforto e apoio aos que mais necessitavam. Isso o fez um santo tão perfeito e mesmo mais de 360 anos de sua morte ainda é lembrado, reverenciado, amado."

Em um momento marcado por conflitos religiosos mesmo dentro do cristianismo, com o advento de religiões protestantes e a perda da hegemonia da Igreja Católica, Vicente de Paulo preferia a conciliação.

"Era um homem de consciência religiosa e humana extraordinárias", diz Maerki. "Ele não entrava nos embates com protestantes, preferia não entrar nesse tipo de debate, não alimentar polêmicas."

Quando morreu, em 27 de setembro de 1660, já era reverenciado como um homem santo. Nas palavras do religioso Francisco de Sales (1567-1622), que o conheceu pessoalmente, aquele era "o homem mais santo do século".

Reconstituição realista

Vicente de Paulo foi sepultado em Paris. Seus restos mortais estão em uma capela que leva seu nome.

Em fevereiro deste ano, em um trabalho idealizado por José Luís Lira e executado pelo designer brasileiro Cicero Moraes a partir de estudos de oito especialistas em medicina forense, teve seu rosto reconstituído de forma realista e tridimensional.

Conforme conta Lira, tudo começou em 2015, quando em uma pesquisa de rotina para um artigo científico ele encontrou fotos do crânio do santo, "tomadas no reconhecimento de suas relíquias, em 1960". "Então pensei na possibilidade da reconstrução facial", relata. "Busquei o amigo Cicero Moraes, um dos maiores especialistas em reconstrução facial, e perguntei se aquelas imagens seriam suficientes."

Moraes tem uma carreira marcada por trabalhos do tipo. Já reconstituiu faces de dezenas de personalidades, de Santo Antônio de Pádua (1195-1231) a dom Pedro 1º. (1798-1834). Para o uso das imagens, Lira solicitou autorização de padre Gregory George Gay, superior geral da congregação vicentina, e obteve os negativos das fotos, que estão sob a guarda da Universidade DePaul, em Chicago, nos Estados Unidos.

"O resultado da reconstrução foi apresentado ao mundo em fevereiro deste ano, na Catedral da Diocese de Crato, no Ceará", relata. "Vimos, na imagem, o olhar, o envelhecimento, não presente nas imagens não-contemporâneas à morte do santo, que se deu aos 79 anos. A reconstrução está com essa idade e características."

Lira destaca alguns aspectos da fisionomia de Vicente, principalmente a boca. "Seus dentes superiores eram mais para dentro que o normal e o queixo, mais avantajado. Havia uma retrusão e isso não ficou claro nas imagens anteriores. Eu fiquei muito feliz com o resultado e até refleti que Deus busca é a beleza interior.

Fonte:  BBC  NEWS,  visita,  hoje,  27  de  setembro  de  2022.

quarta-feira, setembro 21, 2022

sexta-feira, setembro 09, 2022

quinta-feira, setembro 08, 2022

BB: MONSENHOR GONÇALO EUFRÁSIO

 

DA  FAMILIA  EUFRÁSIO   DE  OLIVEIRA,   DE  PITANGA


                                Monsenhor  GONÇALO  EUFRÁSIO


        
GONÇALO EUFRÁSIO DE OLIVEIRA – Mons. Eufrásio nasceu a 23 de novembro de 1903,  no  sítio  Pitanga,  do  distrito  de  Jacaré, do  município  de  Ibiapina,  atual  município de Ubajara (CE), sendo seus pais Joaquim Eufrásio de Oliveira e Jovina Maria de Jesus Eufrásio.
Gonçalo Eufrásio fez seus estudos iniciais nas escolas primárias da sua cidade natal. Em 1920, aos dezessete anos incompletos, demonstrou interesse em abraçar a vocação eclesiástica matriculando-se no Colégio Diocesano de Sobral. No ano seguinte, ingressou no Seminário Arquiepiscopal de Fortaleza, onde fez o curso preparatório e ingressou no curso superior. Por lá, Eufrásio concluiu os cursos de Humanidades, Filosofia e Teologia.   Ainda antes de terminar seus estudos foi convidado para lecionar no Seminário Menor de Sobral. No dia 1.º de dezembro de 1929, aos 26 anos, foi ordenado sacerdote por Dom José Tupinambá da Frota, tornando-se o primeiro padre filho de Ubajara.
           Depois de ordenado, passou a exercer sua carreia eclesiástica em Sobral.  Como discípulo de São João Bosco, em 1930, Mons. Eufrásio implantou na cidade o ensino gratuito e profissionalizante destinado aos estudantes pobres e filhos de operários. Fundou o Externato Dom Bosco e a Escola Profissionalizante Dr. Figueiredo Rodrigues. Em 1932 foi nomeado coadjutor da paróquia do Ipu, mas regressou a Sobral cinco meses após para reassumir sua cadeira no Seminário.
Também atuou como capelão do Colégio Sant’Ana; membro do Conselho de Disciplina do Seminário; Diretor do Colégio Sobralense por várias décadas e Superintendente da Santa Casa de Misericórdia de Sobral. Concluiu a Capela de São Pedro e erigiu vila de casas nas proximidades, no Bairro D. Expedito. Vale lembrar que esse templo foi iniciado por Dom José Tupinambá da Frota, com a ajuda do Pe. Osvaldo Chaves, que realizou a benção da pedra fundamental antes de repassar a obra ao Mons. Eufrásio. Este respeitado padre-mestre também reformou várias outras igrejas nos bairros e subúrbios de Sobral.
              O grande sacerdote ubajarense, educador e defensor das causas dos mais humildes tinha pele escura, era um pouco fanhoso e mantinha comunicação fácil e direta com o povo. Mons. Eufrásio cativava a todos pelo seu espírito brincalhão, esportivo e descontraído. Era agradável no trato com seus colegas, paroquianos e alunos e era especialista em colocar apelidos. Sempre com alegria transbordante, gostava muito brincar com as pessoas e de dar petelecos na meninada. Que o digam aqueles que receberam suas aulas de Matemática e Geografia.
Pelo fato de ser negro e com forte presença de espírito, Mons. Eufrásio fazia com que essa condição o ajudasse a arrancar risos das pessoas que o cercavam. Conta-se que, depois de ordenado Monsenhor, certa vez alguém lhe perguntou por que não usava as vestes apropriadas para o cargo. Em tom de gozação, ele respondeu: “Negro já é feio, imagina todo enfeitado!”.
              Outro episódio ocorrido na Praça Dr. Ibiapina (do São João) mostrou que o padre brincalhão, quando necessário, também falava mais grosso, sério e muito sério. Testemunhas oculares contam que estava havendo um movimento protestante naquela praça, nas proximidades do Externato Dom Bosco, fundado por Mons. Eufrásio.
                Como prevenção para eventual confusão, os protestantes estavam protegidos pela polícia, sob o comando do delegado Gustavo Rodrigues. Este era muito severo e  exibicionista ( vibrante ) e tinha o estranho apelido de “Quebra Chifres”.
A rapaziada católica, que estava ao lado do Colégio do Mons. Eufrásio, dirigiu uns assobios e vaias aos “crentes”. Sem titubear, Quebra Chifre foi tomar satisfação e ameaçou “varrer a bala” o grupo de estudantes. Imediatamente, Mons. Eufrásio tomou a frente e desafiou, em tom sério, Quebra Chifre. Disse-lhe que ali, além de um padre, debaixo daquela batina havia um homem. E, caso o delegado quisesse comprovar, era só experimentar atirar.
Na ocasião, muitos católicos acorreram em solidariedade ao religioso, prontos para enfrentar Quebra Chifre e seus comandados. Mas chegou a turma do deixa disso e tudo terminou antes de começar a briga. E são muitas as histórias, principalmente engraçadas, que se conta a respeito deste ilustre e devotado sacerdote e educador.
Monsenhor Gonçalo Eufrásio de Oliveira faleceu prematuramente, aos 59 anos, no dia 31 de janeiro de 1963, dia de Dom Bosco, de quem era devoto. Foi vítima de um fulminante ataque cardíaco sofrido exatamente na praça em frente ao portão da Santa Casa de Sobral, para onde se dirigia em sua motocicleta.
           Mons. Eufrásio foi sepultado no jazigo do clero no cemitério São José, centro de Sobral. Tempos depois, a pedido de seus familiares, seus restos mortais foram trasladados para a igreja de São Pedro, por ele construída.
A cidade, eternamente grata por seus serviços prestados a esta comunidade, presta-lhe uma homenagem dando o nome de Praça Mons. Eufrásio à praça que fica em frente à Santa Casa de Misericórdia. Lá existe seu busto aproximadamente no local onde o sacerdote tombou sem vida.

                         Fonte: Correio  da  Semana. Jornal  da  Diocese  de  Sobral. Visita:28/05/2015.  14:10h.

Reorganização. Messias  Costa


BB - MANOEL MIRANDA - O EMES

 

EMES


MANOEL  FERREIRA  DE  MIRANDA

 

Manoel Miranda  nasceu  em  Granja,  a  2  de  Agosto  de  1886.  Era  filho  de  Antonio  Ferreira  de  Miranda  e  de  dona Izaura  Miranda,  falecida.  Aos  2  anos  de  idade  ficou  órfão  de  mãe.  O pai,  em  segundas  núpcias,  casou  com  Joana  Carneiro  de  Aguiar,  que  era  filha  de  Raimundo  Antunes  de  Aguiar  e  de  dona  Maria  Carneiro  de  Aguiar,  que  veio  a  se  tornar  figura  bastante  importante  na  vida  do  menino  Manoel  Miranda,  visto  que,  em  seu  Diário  de  um  velho,  de  1951,  afirma: “vi  nela  a  imagem  de  uma  verdadeira  mãe”.  Até  os  13  anos  de  idade,  permaneceu  na  localidade  conhecida  na  época  como  Canto  Grande,  naquele  município,  conhecido  em  outros  tempos  como  Macavoqueira.

Em  1905,  Manoel  Miranda  foi  para  a  localidade  de  Breves,  no  Pará.  Durante  mais  de  um  ano    permaneceu  trabalhando  como  empregado  de  um  proprietário  de  terras. 

Sem  recursos  materiais,  não  conseguiu fazer  estudos  secundários,  o  que  avulta  a  sua  personalidade  que   se  projeta  em  primeiro  plano,  nos  círculos  intelectuais.

        Jornalista,  sobretudo,  cultivou,  na  mocidade,  a  poesia  e  o  conto.  Fundou  em  Ubajara,  onde  veio  viver  ainda  moço,  o  jornal  A  IBIAPABA,  o  primeiro  da  Vila,  em  parceria  com  Craveiro  filho,  tendo  feito  circular,  antes  em  1910,  com  José  Vasconcelos,  O  SERRANO.  Em  1924  iniciou  a  publicação  da  Gazeta  da  Serra,  folha  hebdomadária  de  real  influência  na  região  norte  do  Estado.  Passando  a  residir  na  capital  Fortaleza,  ali  fundou  A  TARDE,  no  qual,  mais  de  uma  vez  sobressaiam  os  lampejos  da  sua  pena.  Por  esta  época  e  motivado  por  problemas  de  saúde,  voltou  a  residir  em  Ubajara.  Das  suas  obras:  CEARÁ  POR  DENTRO  ( Contos  regionais ),  UBAJARA,  COUSAS  QUE  ACONTECEM  (  Contos  regionais ),  Diário  de  Genny.  Utilizou  o  pseudônimo  Emes


BB - Banco Biográfico: PEDRO FERREIRA DE ASSIS

 IBIAPINENSE,  MAIS  UBAJARENSE...


A  TÍTULO  DE  BIOGRAFIA

PEDRO  FERREIRA  DE  ASSIS

 

 

             Não é a morte física que faz desaparecer o homem do cenário do mundo; o que líquida a memória da gente é o desprezo da humanidade.  Os feitos nobilitantes e as virtudes do justo imortalizam o nome daquele que se foi para a eternidade.

            Pedro Ferreira de Assis não podia deixar  de ser incluído entre figuras que se perpetuarão na história do Ceará.   Nasceu na cidade de Ibiapina, na velha Ibiapina, aos 4 dias do mês de outubro de 1881, em berço humilde, embora tenha sangue nobre.  Dotado de inteligência rara e perspicaz, muito cedo conquista os caminhos do mundo. Aprendeu a ler e escrever por conta própria, estudou sozinho o quanto pode e, nessa condição de autodidata, foi muito mais longe do que dele se poderia esperar. Como operário plantou roçados, cultivou cafezais e canaviais manejando o duro cabo da enxada e foice até fazer o seu “pé de meia” e daí lhe foi mais fácil reunir maiores economias e tornar - se grande proprietário agrícola. Continuou estudando, pesquisando e lendo obras importantes de autores nacionais e estrangeiros, até adquirir conhecimentos gerais de quase todas as ciências em voga.

            Publicou catorze livros diversos, de poesia, romance, sociologia, geografia etc. Pronunciou conferências, organizou mapas geográficos da região recebendo prêmios do Instituto Geográfico Brasileiro. Escreveu,  ainda,  crônicas e artigos focalizando problemas vitais do Ceará. A sua última produção literária constou de um discurso que redigiu às  vésperas da inauguração do teleférico da Gruta de Ubajara, mas não chegou a pronunciá-lo, como estava programado, porque a viagem derradeira, que é a da eternidade, teve de ser feita antes da solenidade dos festejos  mencionados. Foi um lutador pelo progresso da nossa esquecida e desprezada  Ibiapaba, terra a qual devotou todo seu amor do seu imenso coração de patriota sem mácula. A gruta de Ubajara foi por ele devassada e estudada minuciosamente. No interior da imensa e misteriosa caverna, o escritor e jornalista Pedro Ferreira de Assis armou uma tenda de trabalho e ali se demorou quase uma semana, acolitado por ajudantes e operários, realizando estudos e perquirições importantes, às suas próprias expensas.  Escreveu um mapa cuidadoso de todas as dependências da Gruta  de  Ubajara, proporcionando um contribuição valiosa à divulgação da maior atração turística do Norte e Nordeste do Brasil.
              Da cidade de Ibiapina, onde nasceu e progredira, tanto econômica como politicamente, tendo sido eleito cinco vezes prefeito da cidade,  o escritor e estudioso Pedro Ferreira de Assis transferiu-se em 1940 para a vizinha encantadora “Princesa da Serra”, o berço de Magalhães Junior. Para a acolhedora Ubajara não levar apenas a família e a bagagem, além dos recursos que já eram vultosos, mas, sobretudo, o seu generoso coração.  Com a sua proverbial cordialidade e espírito comunicativo e amigo, Pedro Ferreira de Assis tornou-se um dos maiores ubajarenses pela simpatia que devotava à terra e pela consideração que dispensava a todo mundo. Na cidade que acolhera para viver e gozar da tranqüilidade ao lado da família recebeu de Deus, após 35 anos, o chamado para a última tarefa do além. E partiu como um justo, no dia 3 de agosto de 1975,  há um ano, portanto. Todos  sentimos a perda irreparável do grande Ibiapabano que foi o escritor, poeta e jornalista Pedro Ferreira de Assis, um dos maiores e mais ricos patrimônios culturais de Ibiapaba, dos últimos tempos, um líder que lutava e se empenhava pelo desenvolvimento da terra cearense, um político que desfraldava uma bandeira limpa e intrépida em prol das reivindicações prementes da Serra Grande;  enfim, um homem honrado, pai de família exemplar e cidadão querido e respeitável que dignificava a  espécie humana e engrandecia a cultura alencarina com o gênio de um autodidata como bem poucos, inteligente, estrênuo e prolífico.
             Os seus restos mortais repousam para sempre na cidade de Ibiapina, sua terra natal, mas o seu nome imortalizado de homem de letras sobrevive e esplende em todo o Ceará.

 


Escrito por Raimundo Eufrásio de  Oliveira,  o  “Radésio  Serrano”
JORNAL CORREIO DO CEARÁ

09/08/1976 – PÁGINA 04  in  Ibiapina  News,  6 agosto  de  2014.


BANCO DE BIOGRAFIAS

REPLAY GRUPO DE MÃES DE ALUNOS

  da  ESCOLA  GRIJALVA  COSTA,  no  centro  de  Ubajara.  Década  de  70 A  professora,  em  pé,  ao  fundo,  era  Zuleide,  que  foi  morar...