quarta-feira, agosto 27, 2014

DAS ÁGUIAS 1

POEMAS  DE  OSCAR  DE  OLIVEIRA  MAGALHÃES,  colhidos  em  JORNAL  DA  POESIA.


Poemas:



PÁSSARO CANORO
Trago dentro de mim um pássaro canoro
alegre como o sol e manso como o luar... 
Dele, talvez me venha este verso sonoro
falando de um desejo imenso de voar...
 
De voar para além, para um rincão distante
onde não vingue o ódio, onde não medre a dor. 
Para um país de luz perene e deslumbrante, 
para um mundo de paz, de harmonia e de amor.


              ENVELHECENDO
Ânimo, ó viajor, és moco e és forte, apanha 
o teu bordão e galga a montanha da vida! 
Eu era forte e moço e a encosta da montanha 
pus-me logo a escalar em rápida corrida.
Não corras tanto, assim! O sol dourado banha 
a tua estrada branca, esplêndida, florida; 
trinam aves de arminho e aquela árvore estranha 
abre-te o pára-sol da copa colorida.
Demora um pouco. Vê!... Mas eu não vi, corria 
na pressa de atingir o alto da serrania... 
E agora, triste e só, cansado e em desalinho,
descendo a oposta escarpa á luz de um sol poente 
levo, no olhar velado, a saudade pungente 
daquilo que deixei de ver no meu caminho.
 



 
                    ESTRANHO
 
Esses, por certo, hão de saber quem são, 
de onde vieram, 
aonde vão, 
pois parecem felizes. E eu, quem sou? 
De ande vim eu? 
Aonde vou?
Às vezes me pergunto, a mim mesmo e, cansado 
do silêncio  da espera indefinida, 
olho a sombra que vai, tal qual a minha vida, 
negra e longa arrastada á margem dos caminhos,
sem saber de onde vem, - por sobre abrolhos, 
sem saber aonde vai, - por sobre espinhos... 
E a sombra esboça um gesto amargurado 
de quem  esmaga lágrima nos olhos...
Oh! os que vão a rir hão de saber quem são 
mas, ai! eu que soluço arrastando-me a esmo, 
sei apenas que sou um estranho a mim mesmo.


OCASO
Hora de tédio e de meditação!
Longe agoniza o sol num poente de ouro e de aço, 
e em meu peito outro sol de luz magoada e fria, 
pinta o pálido azul com as cores da agonia.
Andam asas no espaço. 
Asas cor de carvão.
 
Na torre lanceolada de minh'alma 
há vagos sons de violino 
chorando o ritornelo gris da mágoa.
Expira a tarde, plange o sino,
é morta a luz, morta a ilusão...

FONTE: JORNALDAPOESIA.27AG2014 15;50

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