quinta-feira, outubro 31, 2019

A MORTE DO PADRE FRANCISCO PINTO, EM 1608



O  PADRE  FRANCISCO  PINTO

             Nasceu  em  Angra,  Ilha  Terceira de  Açores,  em  1552.  Faleceu  em  Ibiapina  a  11  de  janeiro  de  1608.  Ainda  criança  veio  para  Pernambuco  e,  em  31  de  outubro  de  1568,  aos  16  anos,  ingressou  na  Companhia  de  Jesus,  passando  a  cursar  o  Colégio  dos  Jesuitas,  na  Bahia.
            Tinha  30  anos,  em  1582,  quando esteve  à  morte.  Por  essa  ocasião,  o  padre  José  de  Anchieta,  Provincial  da  Ordem,  lhe  predisse  que  ele  não  se  finaria  tão  cedo,  nem  teria  morte  plácida:  haveria  de  ainda  sofrer  muito  e  de,  simultaneamente,  salvar  muitas  almas.
             A  21  de  janeiro  de  1607,  os  padres  Francisco  Pinto  e  Luiz  Figueira  partiram  de  Pernambuco  em  demanda  do  Maranhão,  com  instruções  para  fazerem  um  estágio  no  Ceará.  O  fim  de  tal  parada  era  apaziguar  os  silvícolas,  exaltados  com a  desastrosa  incursão  de  Pero  Coelho,  em  1603.
            Até  Mossoró,  os  missionários  viajaram  numa  barcaça,  que  vinha  fazendo  carregamento  de  sal.  De  Mossoró  vieram  por  terra,  até  o  local  onde  hoje  se  levanta  a  cidade  de  Fortaleza.
             Após     breve  demora  de  alguns  dias,  rumaram  em  viagem  penosíssima   para  a  serra  da  Ibiapaba,  onde  chegaram  sete  meses  depois  de  terem  saído  de  Pernambuco.  Entre  as  diferentes  tribos  tapuias  que  viviam  na  Ibiapaba,    uma  acolheu  com  desagrado  os  jesuítas  que  foi  a  dos  tacarijus.
             Vividos  cinco  meses  na  Serra  Grande,  numa  contínua  pregação,  frutuosíssima  em  relação  aos  tabajaras,  mas  inoperante  quanto  aos  tacarijus,  os  dois  filhos  espirituais  de  Santo  Inácio  de  Loyola,  resolveram  prosseguir  para  o  Maranhão,  ponto  terminal  da  peregrinação  encetada  quase  um  ano  antes.  E,  havia  dois  dias  se  encontravam  a  caminho  quando,  perseguidos  pelos  tacarijus,  se  viram  assaltados  pelos  mesmos.
             O  padre  Francisco  Pinto  foi  morto  às  primeiras  horas  do  dia  11  de  janeiro  de  1608,  precisamente  no  instante  em  que  se  paramentava  para  celebrar  a  Missa,  no  altar  portátil  de  que  se  fazia  acompanhar.
            Cairam  lutando  em defesa  do  sacerdote  santificado  pelo  martírio  três  índios  do  séquito  dos  catequistas.  O  padre  Luiz  Figueira  e  mais  cinco  indígenas,  seus  companheiros  fies  e  dedicados,  conseguiram escapar  à  sanha  assassina  dos  tacarijus,  embrenhando – se  na  mata.  Logo  que  os  assaltantes  se  retiraram  do  local  da  carrnificina,  conduzindo  triunfalmente  os  paramentos  e  objetos  de  culto,  reapareceram  os  seis  escapos  à  chacina  e  conduziram  o  cadáver  do  protomártir  da  civilização  cearenses,  indo  enterrá – lo  no  sopé  da  serra,  num  sítio  em  que  erigiram  uma  cruz.  Araripe  lembra  a  frase  que  a  Ibiapaba  servisse  de  elevado   mausoléu,  como  servira  de  trono  à  caridade  do  Padre  Francisco  Pinto.
          Tres  anos  mais  tarde,  em  1611,  os  índios  Jaguaribe,  guiados  por  Poti  ou  Camarão,  trasladaram  os  ossos  do  Pe.  Francisco  Pinto  em  um  caixote  e  os  inumaram  na  aldeia  de  Porangaba.
          O  instrumento  do  suplício  do  padre  Francisco  Pinto  foi  um  grosso  cacete  de  jucá.  Esta  arma,  tinta  pelo  sangue  do  glorioso  apóstolo,  foi  levada  como  relíquia  pelo  padre  Luiz  Figueira  para  a  Bahia,  donde desapareceu  em  1624,  nos  tumultos  da  luta  com  os  holandeses.  Aludindo  à  íngreme  brecha  as  pauladas  abriram  no  crânio  do  Padre  Francisco  Pinto,  o  padre  José  de  Morais  escreveu  que  “houvera  necessidade  de  tão  larga  porta  para  por  ela  sair  tão  grande  alma”.
          E  assim tragicamente se evolou  aos céus a alma angélica do “Amanajara” (senhor da chuva ),  como  os  tabajaras  lhe  chamavam,  atribuindo – lhe  poderes  miraculosos.   
Fonte:  Ungidos  do  Senhor  na  Evangelização  do  Ceará, págs 47 e 48, de  Aureliano  Diamantino  Silveira  T 2

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