segunda-feira, novembro 12, 2012

SUEIRO LOBATO, poeta




POEMA  INÉDITO
                              Sueiro  Lobato

A  coruja

Baixe  o  quarto  crescente  a  sua  branca  toalha
Ou  o  plenilúnio  esparja  a  sua  luz  vermelha,
Ei – la  sempre  a  gritar  a  sua  voz  que  assemelha
O  agoureiro  rumor  de  um  rasgar  de  mortalha.


Se  da  noite  silente  o  negro  véu  se  espalha
Sem  o  pisco  luzir  de  uma  fulva  centelha,
Ela  põe – se  a  piar  de  uma  casa  na  telha
Ou  no  simples  beiral  de  um  casebre  de  palha.


Triste  e  reconcentrada,  é  a  predileta  filha
Da  treva.  É  singular  que  sempre  a  noite  escolha!
Dizem  que  à  luz  do  sol o  seu  olhar  não  brilha.


Aos  cemitérios  vai.  E,  ali,  de  tulha  em  tulha
De  ossos,  mexe,  remexe  um  garrancho,  uma  folha,
Sempre  e  sempre  a  fazer  a  costumada  bulha.

“O  poeta  SUEIRO  LOBATO  é  um  dos  mais  importantes  escritores  brasileiros.  Com  esse  pseudônimo  de  escassa  eufonia  Graciliano  Ramos  assinou  poemas,  até  hoje  inéditos.  O  movimento  em  torno  do  seu  centenário,  com  publicação  de  biografias  e  pesquisa  para  exposições,  revelou  poemas  como  A  Coruja,  publicados  em  obscuras  revistas  de  província.  Esse  e  outros  achados  são  o  filé  mignon  de  eventos  como  a  recente  mostra  Graciliano  Ramos :  Cem  anos,  realizada  de  agosto  a  setembro,  na  Biblioteca  Nacional
( que  tive  a  honra  de  freqüentar ),  e  de  mais  suas  exposições  que  vão  festejar  o  centenário  de  nascimento  do  escritor.  No  Rio.  A  fundação  Casa  de  Rui  Barbosa  abre,  a  partir  de  quinta  -  feira,  a  sua  Homenagem  a  Graciliano  Ramos,  reunindo  primeiras  edições  de  livros,  críticas,  poemas, entrevistas,  painéis  fotográficos  de  Walter  Firmo  sobre  o  universo  regional  nordestino,  além  do  original  datilografa  de  Memórias  do  Cárcere,  pivô  de  uma  das  polêmicas  a  cerca  de  Graciliano”.
Fonte:Idéias/LIVROS    E  ENSAIOS, 24/10/1992.  Jornal  do  Brasil, Rio  de  Janeiro.  1992. 

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