quinta-feira, setembro 27, 2012

QUEM NÃO LEU... TÁ NA HORA!




(...)
O  automóvel  sumiu – se  na  noite.
E,  no  brejo,  os  sapos  coaxavam  agora  uma  estória  complicadíssima,  de  um  sapo  velho,  sapo – rei  de  todos  os  sapos,  morrendo  e  propondo  o  testamento  à  saparia  maluca,  enquanto  que,  como  todo  sapo  nobre,  ficava  assentado,  montando  guarda  no  próprio  ventre.
-  “Quando  eu  morrer,  quem  é  que  fica  com  os  meus  filhos?”...
_ “Eu  não...Eu  não! ... Eu  não!...Eu  não!...
(Pausa  para  o  sapo  velho  soltar  as  últimas  bolhas,  na  água  de  emulsão.)
-“Quando  eu  morrer,  quem  é  que  fica  com  a  minha  mulher?”
-“ É  eu!  É  eu!  É  eu!  É  eu! É  eu!”...
Major  Anacleto  chama  Lalino,  e  as  mulheres  trazem  Maria  Rita,  para  as  pazes.  O  chefão  agora  é  quem  se  ri,  porque  a  mulherzinha  chora  de  alegria  e  Lalino  perdeu  o  jeito.  Mas,  alumiado  por  inspiração  repentina,  o  Major  vem  para  a  varanda,  convocando  os  bate – paus:
-  Estêvam!  Clodino!  Zuza!  Raimundo!  Olhem:  amanhã  cedo  vocês  vão    nos  espanhóis,  e  mandEm  aqueles  tomarem  rumo!  É  para  sumirem.  Já,  daqui!...  Pago  a  eles  o  valor  do  sítio.  Mando  levar  o  cobre.  Mas  é  para  irem  p´ra  longe!
E  os  bate – paus  abandonam  o  foguinho  do  pátio,  e,  contentíssimos,  porque  de    muito  tempo  têm  estado  inativos,  fazem  côro:
                                 “Pau!  Pau!  Pau!
                                   Pau  de  jacarandá!...
                                  Depois  do  cabra  na  unha,
                                  Quero  ver  quem  vem  tomar!...”
E  os  sapos  agora  se  interpelam  e  se  respondem,  com  alternâncias  estranhas,  mas  em  unanimidade  atordoante:
-Chico?  -  Nhô!?  -  Você  vai?  -  Vou!
-Chico?  -  Nhô!?  -    vai?  -  Vou!

Trecho  de  A  VOLTA  DO  MARIDO  PRÓDIGO,  em  Sagarana,  de  João  Guimarães  Rosa.

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